OS ATUAIS DESASTRES GEOLÓGICOS:

UMA CHAVE PARA O PASSADO E PARA O FUTURO

Autor: Nahor Neves de Souza Jr

Publicado: Parousia, 1.º semestre – 2010,  Ano 9, Número 1, pg. 109-133, UNASPRESS

INTRODUÇÃO

O Atualismo, em sua concepção clássica, também intitulado “Uniformitarismo” (ou “Uniformismo”), defendido por James Hutton (século XVIII) e Charles Lyell (século XIX) – os pais da geologia evolucionista – considera “o presente como sendo a chave do passado”. Esse passado teria sido igual ao presente em gênero e intensidade dos processos geológicos ordinários (não cataclísmicos) atuantes na crosta terrestre. Neste caso, o Gradualismo (mudanças lentas e graduais, durante milhões de anos), como parte integrante do processo, afastou decisivamente a possibilidade de eventos catastróficos na Coluna Geológica.

Posteriormente, o Atualismo passou a ter novo significado: constitui a afirmação da constância das leis naturais que têm regido a Terra, durante os longos períodos (dezenas de milhões de anos) de calmaria geológica. Nessa nova proposta, considera-se a possibilidade de os eventos geológicos terem, esporadicamente, se desenvolvido com maior intensidade. Neste caso, o “Catastrofismo” e o Atualismo podem defender alguns pontos de vista mutuamente inclusivos. Surge então, no século XX, uma “nova” hipótese, denominada “Neocatastrofismo”.

Não é tarefa difícil identificar a descoberta mais importante que influiu para o estabelecimento do Neocatastrofismo e, conseqüentemente, para o enfraquecimento do Atualismo de Hutton e Lyell. Consiste da hipótese proposta por Alvarez (1980) – queda de gigantesco meteorito que teria provocado total extermínio dos dinossauros e outras prováveis mudanças repentinas sobre a superfície da Terra. No entanto, o predomínio não apenas do Uniformismo, mas também do Neocatastrofismo ocasionaram, seguramente, uma série de problemas, ou mesmo prejuízos, no desenvolvimento do próprio conhecimento geológico, nos últimos 150 anos. Ou seja, a imposição destes dois paradigmas geológicos dificultou a visualização, ou mesmo impediu a correta interpretação, de determinados eventos geológicos catastróficos e contínuos – os Fenômenos Geológicos Globais.

Pesquisas recentes no campo da Geologia e da Paleontologia, abrangendo toda a história fanerozóica (trecho da Coluna geológica que contém o Registro Fóssil – ver Figura 10), têm proporcionado muitas informações favoráveis à compreensão dos seguintes Fenômenos Geológicos Globais, ocorridos no passado:

  1. Grandes Províncias Ígneas (LIPs)
  2. Fragmentação do Pangea e Tectônica de Placas
  3. Impactos de Gigantescos Meteoritos
  4. Extinção (Mortandade) em Massa
  5. Ação Devastadora de Megatsunamis
  6. Extensas e Espessas Deposições Sedimentares

Vivemos, atualmente, em um ambiente de calmaria geológica (fenômenos geológicos ordinários), interrompida esporadicamente por desastres geológicos bastante pontuais, relativamente às abrangentes áreas dos referidos Fenômenos Geológicos Globais (FGG). Dentre os eventos geológicos atuais, aqueles que com mais freqüência causam transtornos ao meio ambiente, são as erupções vulcânicas violentas. Por mais catastróficos que possam ser estes desastres naturais, não se comparam com os eventos vulcânicos ocorridos em determinada fase da história geológica. Estamos nos referindo às Grandes Províncias Ígneas (o primeiro FGG).

O PASSADO

As Grandes Províncias Ígneas (LIPs) correspondem a gigantescas acumulações de rochas ígneas ou magmáticas (rochas formadas pelo resfriamento do magma ou lava) que, provavelmente, representam o tipo dominante de magmatismo nos planetas terrestres (Mercúrio, Vênus, Terra e Marte) e luas do Sistema Solar (COFFIN et alii, 2006). Na Terra, as LIPs se distribuem por toda a sua superfície (Figura 1) e representam, depois da formação dos assoalhos oceânicos, os maiores fenômenos ígneos do planeta. Assim, estes eventos vulcânicos, em sua totalidade, seriam os responsáveis diretos por modificações significativas em mais da metade da área total da superfície da crosta terrestre.

O estudo integrado destas grandes províncias é plenamente justificável, tendo em vista a existência de importantes relações temporais, espaciais e composicionais entre elas, apontando para eventos de abrangência global. Neste sentido, o estudo minucioso de determinada província ígnea poderá contribuir para uma melhor compreensão das LIPs, em geral, quanto às suas prováveis causas e efeitos. A grande província ígnea, considerada mais detalhadamente a seguir, refere-se à Formação Serra Geral, fenômeno ocorrido entre o “Jurássico” e o “Cretáceo” (localizar na Figura 10)

FIGURA 1 – Distribuição global das Grandes Províncias Ígneas (LIPs)

Vulcanismo Serra Geral

Tente imaginar um tipo atividade vulcânica, de proporções tão extraordinariamente catastróficas, que jamais teriam sido presenciadas pelo homem moderno. Estamos nos referindo, especificamente, a uma Grande Província Ígnea – o Vulcanismo Serra Geral (ver seta indicando local na Figura 1), que abrange vastíssima área na porção meridional da America do Sul (Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina). Por ocasião deste evento vulcânico, a crosta terrestre se fragmentou, formando imensas fissuras (com dezenas de quilômetros de extensão e profundidade e centenas de metros de largura) através das quais foram mobilizados colossais volumes de magma (aproximadamente, 1.000.000 km3) em uma área superior a 1.500.000 km2.

Os derrames individuais da Formação Serra Geral correspondem a imensos fluxos de lava (hoje, rochas basálticas), com dezenas de metros de espessura e centenas de quilômetros de extensão, que se extravasaram de maneira contínua (Figura 2). Na realidade, este extraordinário fenômeno geológico é apenas a manifestação de um único evento vulcânico pretérito, dentre muitos outros de porte equivalente, e igualmente catastróficos, que se desenvolveram no passado, tanto em regiões continentais como nas vastas áreas oceânicas (platôs oceânicos).

FIGURA 2 – Visão parcial de um derrame de lava solidificado – Rocha Basáltica (Jaú-SP)

Nas pesquisas do autor do presente trabalho (Souza Jr., 1986 e 1992) – desenvolvidas junto a Universidade de São Paulo (USP), durante 12 anos – verificou-se que as evidências de campo (estruturas e relações de contato) e os resultados de análises microscópicas (aspectos texturais e mineralogia), dentre outras evidências encontradas, apontam para um período de apenas algumas semanas para o tempo de formação do catastrófico vulcanismo Serra Geral. É um alívio saber que manifestações vulcânicas amplas e cataclísmicas como estas não estão ocorrendo hoje.

Outros Fenômenos Geológicos Globais

Para a área do Atlântico Sul, verifica-se que a Província Serra Geral ocorreu imediatamente antes do início da separação das Placas Sul Americana e Africana. Após a fragmentação do antigo super-continente Pangea (Figura 3a), o magmatismo basáltico Serra Geral migrou para leste e se estabeleceu em uma enorme fenda (milhares de quilômetros de extensão) – originando o proto-oceano atlântico – que, a partir de sucessivas movimentações distensivas e acréscimos laterais de lava basáltica, resultou no atual assoalho do Oceano Atlântico, preservando na sua porção central a mesma fenda, que corresponde ao vale central (“rift-valley”) da extensa cordilheira meso-atlântica (Figura 3b).


(a)

(b)
FIGURA 3 – Fragmentação do Pangea (a) e formação da Cordilheira Meso-Atlântica (b)

Neste caso, o próprio Oceano Atlântico teria se formado lenta e gradualmente, ou de forma rápida e catastrófica?  A semelhança notável, entre os contornos da América do Sul, da África e da Cordilheira Meso-Atlântica (ver Figura 3b), parece não se ajustar a prolongados períodos de afastamentos das duas áreas continentais, originalmente contiguas. Na busca por respostas à referida questão, deve ainda ser considerado o rápido processo de formação de determinadas LIPs e sua provável associação com o mecanismo de formação do assoalho do Oceano Atlântico. Neste sentido, a própria crosta atlântica corresponderia, provavelmente, a uma das maiores, senão a maior de todas as províncias ígneas.

Assim, em princípio, o período de formação da LIP Serra Geral (semanas) poderia se ajustar a fase inicial da formação do próprio Oceano Atlântico que se prolongou por meses até o “Paleógeno” (ver Figura 10). A partir do “Neógeno” (ver Figura 10) o processo de expansão do assoalho do Oceano Atlântico pode ter ocorrido de forma bem mais lenta. Convém lembrar que fenômeno semelhante também ocorreu no desenvolvimento do Oceano Índico. A formação de ambos os oceanos e outros eventos de grande magnitude associados pertencem a um fenômeno mais abrangente – a tectônica de placas.

Poderíamos então afirmar que, de certa forma, tanto a Província Ígnea Serra Geral como as outras Grandes Províncias Ígneas (inclusive as “mega-províncias do atlântico e do Índico”) estariam estreitamente ligadas à fragmentação do Pangea e à tectônica de placas – o segundo Fenômenos Geológico Global (FGG) mencionado na introdução. Mas, é possível ainda se constatar íntima associação das LIPs com outros eventos geológicos de amplitude global.

Estudos recentes, objetivando identificar a origem das Grandes Províncias Ígneas, sugerem a ação de violentos impactos de gigantescos meteoritos (o terceiro FGG) como desencadeadores destas mesmas províncias ígneas (Jones, 2005). Ou seja, os bólidos impactantes teriam promovido a descompressão local e a conseqüente fusão das rochas do Manto Superior (formação do magma). Outros estudiosos do assunto consideram também a possibilidade das LIPs estarem diretamente associadas a extinções em massa de incontáveis seres, hoje fossilizados – o quarto Fenômeno Geológico Global (Wignall, 2001).

Pesquisadores, neste mesmo tema, destacam ainda fortes evidências da superposição de três fenômenos geológicos de amplitude global – os impactos meteoríticos, as Grandes Províncias Ígneas e as extinções em massa (Glikson, 2005). Desta forma, considerando-se o possível vínculo (já comentado) das LIPs com a tectônica de placas, verifica-se a íntima inter-relação de quatro Fenômenos Geológicos Globais, dentre os seis inicialmente mencionados. Os tempos envolvidos, nessa conjunção de eventos globais, evidentemente, correspondem a semanas e meses.

Seria então possível extrair, deste cenário dramático, uma seqüência de eventos, ou melhor, como estes quatro Fenômenos Geológicos Globais começaram a atuar? Os dois fenômenos restantes – megatsunamis (o quinto FGG) e vastas deposições sedimentares (o sexto FGG) – estariam também correlacionados? Tendo em vista os dados, atualmente disponíveis, no campo das ciências naturais, haveria ainda a possibilidade de se definir o evento global primordial que teria desencadeado os outros Fenômenos Geológicos Globais? Estudos em Planetologia Comparada parecem fornecer importantes dados para se responder as referidas questões.

Todos os planetas e satélites do Sistema Solar apresentam evidências diretas e indiretas de colisões com asteróides e/ou cometas. Esporadicamente, pequenos meteoritos ainda atingem a Terra. A proveniência de todos esses corpos errantes parece estar associada ao Cinturão de Asteróides (ou Cinturão Principal), situado em uma órbita entre os planetas Marte e Júpiter (Figura 4). Exatamente a posição orbital ocupada, atualmente, por este cinturão, segundo alguns astrônomos e geólogos, teria pertencido ao “quinto planeta” que em determinado momento desintegrou-se. Dessa explosão, fragmentos de todos os tamanhos (asteróides e cometas) teriam se espalhado por todo o Sistema Solar. Esse fenômeno tem sido denominado de o “Grande Bombardeamento” e constitui importante linha de pesquisa da Astrogeologia.

FIGURA 4 – Sistema Solar: notar cinturão de asteróides (fragmentos rochosos em órbita)

A superfície do nosso satélite natural – a Lua – caracteriza-se, notavelmente, como a mais forte evidência visível dessa singular e devastadora “chuva de asteróides”. Ela está incrustada por inúmeras estruturas de impacto (Figura 5). A grande quantidade de superposições de crateras de impacto (ou astroblemas) de todos os tamanhos impossibilita uma avaliação quantitativa exata (superior a 30.000). Astroblemas gigantescos (manchas escuras), como a cratera “Mare Imbrium” (1.000 km de diâmetro), podem ser facilmente identificados na Lua. Interessante é notar que estas manchas escuras estão associadas a outro fenômeno: a liberação de fantásticas quantidades de magma basáltico que se extravasaram sobre imensas áreas, como conseqüência imediata dos referidos impactos. Seriam estas as LIPs lunares? Fenômenos similares também são identificados em Mercúrio, em Marte, em Vênus e na própria Terra (como já explicado).

FIGURA 5 – Milhares de astroblemas visíveis na Lua: notar as manchas escuras (rocha basáltica)

Mas, por que existem tão poucas (em torno de 200) crateras de impacto identificadas na superfície terrestre, comparativamente à Lua? Tendo em vista que 70% da superfície da Terra é recoberta pelos oceanos, muitas crateras ou estruturas circulares estariam ocultas ou teriam sido destruídas pelos fenômenos de formação e expansão do assoalho oceânico (tectônica de placas). Por outro lado, as áreas continentais foram repetidas vezes erodidas e assoreadas por volumosas quantidades de material sedimentar (transportados por gigantescos tsunamis), obliterando assim muitas outras crateras de impacto.

Outros fatores devem ainda ser considerados, na tentativa de se compreender o porquê da escassez de astroblemas na superfície do globo terrestre. Determinadas atividades geológicas, desenvolvidas em extensas áreas continentais marginais (cinturões metamórficos), que constituem hoje as grandes cadeias montanhosas, podem também ter deformado ou mesmo destruído outros astroblemas.

Mesmo os locais de impacto, não afetados pelos já referidos processos de obliteração, podem ter suas correspondentes estruturas circulares ocultadas por um motivo muito simples: alguns meteoritos de maiores dimensões, ao colidirem violentamente com a Terra (Figura 6), teriam promovido a liberação de grandes volumes de magma (LIPs) de tal forma que o próprio fenômeno vulcânico fissural teria então, provavelmente, auto-obliterado as correspondentes estruturas de impacto (crateras com centenas de quilômetros de diâmetro). Assim, por todos estes fatores, a grande maioria dos astroblemas (em áreas terrestres e oceânicas) não é passível de identificação direta ou visual.

FIGURA 6 – Provavelmente, milhares de gigantescos meteoritos colidiram com a Terra

Considerando-se o fator tempo envolvido nos efeitos imediatos dos referidos impactos de meteoritos, ao desencadear outros fenômenos geológicos igualmente catastróficos, não é tarefa difícil constatarmos que minutos, horas, dias, semanas e meses, correspondem a períodos de tempo em que drásticas transformações ocorreram na superfície da terra. Neste cenário cataclísmico, qual teria sido o efeito de tsunamis gigantescos (o quinto FGG), como resultado dos impactos meteoríticos em mares ou oceanos pré-existentes ou em formação?

 


(a)

(b)

(c)
FIGURA 7 – Megatsunamis transportando material sedimentar, animais e plantas (a) que, posteriormente, se transformaram em fósseis (b) e vastas camadas de carvão (c)

 

A identificação recente de tsunamitos (material sedimentar oriundo de tsunamis), na Coluna Geológica (Dawson, et alii, 2007), pode ser o início de um estudo promissor, visando a descoberta de muitas formações rochosas originadas pelo mesmo processo catastrófico, mas que hoje são associadas, equivocadamente, a processos lentos e graduais de superposição. A ação devastadora de ondas, com centenas de metros de altura, deslocando-se rapidamente por milhares de quilômetros, invadindo e erodindo vastas áreas continentais, não é difícil de imaginar. Esta movimentação catastrófica de grandes volumes de água teria, por sua vez, removido e transportado quantidades colossais de rochas, sedimentos, vegetação e animais (Figura 7a). Este material transportado teria sido, em seguida, depositado nas vastas bacias sedimentares com seu fantástico conteúdo orgânico que, por sua vez, foi posteriormente transformado em fósseis (Figura 7b) e imensas jazidas de carvão (Figura 7c).

Nesse sentido, convém realçar a espantosa quantidade de fósseis – testemunhos irrefutáveis ou “imortalizados” de organismos, no momento em que estavam sendo catastroficamente vitimados e sepultados – encontrados, praticamente, em toda a superfície da Terra. Quando se verifica as dimensões do Registro Fóssil na crosta terrestre, se tem a impressão de estar sobre um vasto e extraordinário cemitério, onde poderíamos identificar aproximadamente 250.000 diferentes espécies de seres e um número incontável de espécimes, notavelmente preservados.

Ao observarmos ainda os detalhes do Registro Fóssil, formado predominantemente por seres de habitat marinho, nota-se que outras possíveis modificações ambientais podem ter ocorrido. Certamente, na ocasião, mudanças climáticas drásticas contribuíram de maneira decisiva para intensificar os processos de mortandade em massa.

Quão rapidamente foram sepultados os seres nos referidos episódios de mortandade em massa (o quarto Fenômeno Geológico Global)? Na verdade, a própria existência dos fósseis por si só, constitui eloqüente evidência do curtíssimo intervalo de tempo entre a morte catastrófica dos correspondentes seres e o início dos processos de contínuo soterramento que, por sua vez, apontam para tempos equivalentes a horas, dias, semanas e meses. É importante ainda destacar que, em vários casos, o soterramento e a mortandade foram simultâneos (sepultamento em vida).

Finalmente, nos deparamos com o sexto e derradeiro Fenômeno Geológico Global – extensas e espessas deposições sedimentares (Figura 8), ou as atuais rochas sedimentares com seu rico conteúdo fossilífero, que compõem as grandes bacias sedimentares. Quando observamos as extensas camadas sedimentares, com centenas de milhares de km2, separadas por nítidos contatos plano-paralelos, estamos na realidade visualizando uma forte evidência de sua rápida e contínua superposição (com intervalos de tempo equivalentes a dias, semanas e meses).

O processo de deposição pode ser ainda mais rápido. Ou seja, em muitos dos extensos afloramentos de rochas sedimentares, as camadas plano-paralelas podem indicar o fenômeno da estratificação espontânea, onde no próprio fluxo do material sedimentar ocorre a diferenciação destas mesmas camadas (Makse, 1997). Neste caso, o espaço de tempo entre os estratos é praticamente nulo. A formação de turbiditos (depósitos sedimentares orginados por correntes de turbidez submarinas) exemplifica muito bem o fenômeno da estratificação espontânea. Recente evento catastrófico – explosão do vulcão Santa Helena (EUA) – propiciou uma notável evidência do processo de estratificação simultânea ou expontânea (Figura 12).

 

FIGURA 8 – Grand Canyon (EUA): notar as extensas camadas com contatos plano-paralelos

As vastíssimas deposições sedimentares, eventualmente intercaladas com volumosos corpos ígneos (intrusivos e extrusivos), constituem o produto final da ação catastrófica de eventos geológicos que modificaram toda a superfície da crosta terrestre em um curto período de tempo. Como exemplo, mencionamos a Bacia Sedimentar do Paraná, localizada na porção meridional da América do Sul, com espesso pacote de material sedimentar que atinge os 7.000 metros, abrangendo uma área de 1.500.000 km2. Esta grande Bacia, além de conter o volumoso conteúdo magmático da Formação Serra Geral, dentre outras formações, inclui os folhelhos e calcários do Sub-Grupo Irati (1.000.000 km2) e os arenitos da Formação Botucatu (1.500.000 km2).

Fenômenos geológicos ordinários (lentos, graduais e não catastróficos), que caracterizam muito bem a calmaria geológica vigente, jamais resultariam em espessos e extensos pacotes de rochas sedimentares com rico conteúdo fóssil, como aqueles identificados na Coluna Geológica e aqui exemplificados. Ou seja, em nenhum local, da vasta superfície da Terra, encontraremos hoje processos de sedimentação ou fossilização que resultarão, em um futuro distante, em novas bacias sedimentares, com novas camadas de rocha, contendo um novo registro fóssil.

Algo diferente e único ocorreu durante a manifestação dos seis Fenômenos Geológicos Globais (Figura 9), resumidamente apresentados no presente trabalho, e ao reconhecê-los constatamos que este momento trágico na história da terra deixou marcas indeléveis, perfeitamente identificáveis. O colossal volume de rochas sedimentares, os imensos corpos ígneos e a enorme quantidade de fósseis, com uma distribuição generalizada, retratam uma grande tragédia – uma catástrofe geológica, de proporções globais, ocorrida (em seu momento mais intenso) em um breve intervalo de tempo (meses). Utilizando a subdivisão convencional da Coluna Geológica, a referida catástrofe geológica global corresponderia ao intervalo que se inicia no “Cambriano” e termina no “Neógeno”, conforme o modelo exposto na Figura 10.

 

FIGURA 9 – Fenômenos Geológicos Globais interligados – A Grande Catástrofe – desenvolvendo-se em curtos períodos de tempo (horas, dias, semanas e meses)

 

FIGURA 10 – A Coluna Geológica

A abordagem geológica aqui desenvolvida, muito embora seja diferente, em termos geocronológicos, da visão defendida pelos geólogos em geral, fundamenta-se, em grande parte, nos dados pertinentes aos referidos fenômenos disponíveis na própria literatura científica convencional. Na verdade, um importante fator distintivo reside na interligação dos seis Fenômenos Geológicos Globais (ver Figura 9). Destes seis, três (impactos meteoríticos, LIPs e extinção em massa) já se encontram interligados na própria literatura geológica tradicional. Os outros três, infelizmente, não têm sido conjuntamente explorados, provavelmente, pelo seguinte motivo: é exatamente no contexto harmonioso destes seis eventos geológicos globais, que os tempos geológicos são drasticamente reduzidos, dos tradicionais milhões de anos, para intervalos de tempo equivalentes a horas, dias, semanas e meses.

Evidentemente, nenhum evento geológico, presentemente observado, pode ser comparado com a extensão e magnitude dos Fenômenos Geológicos Globais – a Grande Catástrofe. No entanto, os resultados devastadores deste trágico desastre pretérito – envolvendo a destruição em massa de seres (plantas e animais) – podem ser melhor compreendidos, quando os comparamos com determinados efeitos oriundos dos atuais desastres geológicos, evidentemente, muitíssimo mais pontuais ou restritos, ocorridos nos tempos modernos.

O PRESENTE

Inicialmente, é importante realçar a distinção entre os fenômenos geológicos ordinários (mudanças lentas e graduais) e aqueles de natureza extraordinária (mudanças rápidas e catastróficas). Os eventos ordinários (não são catastróficos), em princípio, não provocam transtornos ou alterações danosas ao meio ambiente; o equilíbrio ecológico é mantido; como exemplo, destacamos os processos contínuos e lentos de sedimentação observados no desenvolvimento do delta do rio Amazonas.

Por outro lado, os fenômenos geológicos extraordinários seriam equivalentes aos fenômenos vulcânicos, terremotos e maremotos de grande magnitude, dentre outros eventos cataclísmicos (ação catastrófica de águas de superfície, tsunamis, etc.). Os ecossistemas são parcial ou totalmente destruídos. As imensas áreas afetadas atingem centenas ou mesmo milhares de km2. Estes fenômenos geológicos esporádicos se desenvolvem rapidamente (minutos, horas e dias). Felizmente, os atuais desastres geológicos ocorrem esporadicamente.

As catástrofes geológicas, atualmente observadas, poderiam constituir uma chave na compreensão dos eventos geológicos pretéritos – os referidos Fenômenos Geológicos Globais? Possivelmente. Percebe-se então claramente a importância de estarmos mais atentos aos efeitos dos atuais desastres geológicos, pois a compreensão desses mesmos fenômenos poderá eventualmente favorecer um entendimento mais esclarecedor dos eventos passados ou fanerozóicos (ver Figura 10) os quais, quando devidamente identificados e caracterizados, apresentam evidências inequívocas de uma ampla e devastadora catástrofe global.

 

Explosão do Vulcão Santa Helena

A erupção explosiva do vulcão Santa Helena (EUA) representa muito bem um fenômeno geológico extraordinário recente (Figura 11). No dia 18 de maio de 1980, segundos após um forte tremor (4.9 na escala Richter), o flanco norte da montanha explodiu (a energia liberada equivaleu a 500 vezes a bomba atômica lançada em Hiroshima) pulverizando literalmente 400 metros do topo. Cerca de 1 km³ de poeira e gases (material suficiente para construir 400 grandes pirâmides) foram lançados na atmosfera, produzindo um “cogumelo” com 20.000 metros de altura.

Figura 11 – Erupção catastrófica do Vulcão Santa Helena (18/05/1980)

Na ocasião, o impacto explosivo gerou ventos violentíssimos de gás superaquecido (500 °C), que devastaram 10 milhões de árvores, provocando a morte de milhares de animais, 61 pessoas (felizmente, uma região com uma esparsa população) e arrasando uma área de 400 km². A catastrófica explosão do vulcão Santa Helena – EUA gerou fluxos de colossais volumes de material sedimentar, transportados e depositados em poucas horas. Determinado pacote sedimentar então formado, com oito metros de espessura, apresenta marcante estratificação laminada. As delgadas lâminas consistem de ritmitos (partes escuras e claras) ou, alternâncias de fragmentos finos e grosseiros de material piroclástico (fragmentos provenientes de explosões vulcânicas), incluindo localmente estratificações cruzadas (Figura 12). Estes ritmitos são facilmente explicados se aplicarmos o já referido fenômeno da estratificação espontânea.

Figura 12 – Ritmitos (estratificação espontânea), produzidos durante a erupção do Vulcão Santa Helena

Outros Desastres Geológicos Atuais

Destaca-se aquele que é considerado um dos maiores desastres naturais da história – a extraordinária erupção do Krakatoa, na Indonésia, em agosto de 1883: uma catastrófica associação de violenta explosão vulcânica, formação de grandes tsunamis, mortandade em massa, alterações climáticas, etc. A explosão corresponderia à liberação instantânea de energia equivalente a 5.000 bombas de Hiroshima. Dois terços da ilha Krakatoa desapareceram. A montanha de 2.700 metros de altura reduziu-se a 1.500 metros. A nuvem formada pela explosão atingiu 50.000 metros de altura, distribuindo 18 km3 de cinzas vulcânicas por 700.000 km2, promovendo o bloqueamento de 13% da luz solar e, conseqüentemente, o abaixamento das temperaturas globais em 0.5°C durante 2 ou 3 anos. Na ocasião, formaram-se tsunamis sucessivos com ondas de 40 metros de altura, que percorreram distâncias de até 20.000 km (Panamá) e foram responsáveis pela morte de 36.000 pessoas.

Outro exemplo marcante, dos efeitos catastróficos de um evento vulcânico recente, refere-se à trágica erupção do vulcão Nevado Del Ruiz (Colômbia) em 13 de novembro de 1985. O vulcão andino, com 5.389 m de altura, entrou em erupção explosiva (piroclástica) com magnitude pequena, mas o suficiente para provocar o derretimento de 10% da sua calota de gelo, gerando assim fluxos de lama que se deslocaram com impressionante velocidade (40m/seg.) encosta abaixo. Esses fluxos catastróficos de lama soterraram, literalmente, o vale adjacente onde se localizava a cidade de Armero – 22.000 pessoas perderam a vida. Uma possível investigação de sub-superfície com sondagens, ou mesmo, o desenvolvimento de um processo natural de erosão nesta região (Figura 13), que compreende cerca de 40 km², poderia provavelmente expor seres em franco processo de fossilização.

Figura 13 – Cidade de Armero (Colômbia), parcialmente soterrada (13/11/85)

No contexto dos desastres geológicos atuais, destaca-se ainda o trágico maremoto (9 graus na escala Richter) do sudeste asiático, no dia 26 de dezembro de 2004. Os tsunamis então formados – deslocando-se no Oceano Índico com velocidades superiores a 800 km/h – dizimaram centenas de milhares de pessoas em poucas horas. O poder de destruição desse maremoto seria equivalente a 23.000 bombas atômicas, do tipo que devastou Nagasaki em 1945. As enormes ondas, ao deslocaram-se rapidamente, atingiram em poucas horas a costa africana (4.800 km de distância).  O litoral de 14 países em dois continentes (Ásia e África) foi varrido por tsunamis de até 20 metros de altura, vitimando mais de 200.000 vidas em poucos minutos. Nesse trágico evento geológico extraordinário, ilhas inteiras deslocaram-se em algumas dezenas de metros e outras desapareceram. A orla marítima de vários países foi modificada.

Não seria nada confortável (altíssimo risco de vida), se fôssemos obrigados a vivenciar (testemunhas presenciais) os quatro desastres geológicos, dos tempos modernos, aqui apresentados. Mas, algo muito pior ocorreu no passado. Procure então se colocar, mentalmente, em um ambiente em que os três desastres vulcânicos aqui resumidamente descritos (Santa Helena, Krakatoa e Nevado Del Ruiz), juntamente com o trágico maremoto de 2004 no sudeste asiático, tenham sido substituídos por outros equivalentes, mas muito mais violentos e abrangentes – os Fenômenos Geológicos Globais.

Assim, neste cenário devastador, se sobrevivermos aos violentos impactos de gigantescos meteoríticos e à ação destruidora de megatsunamis, estaremos então presenciando imensos “vulcões lineares” (zona de divergência de placas tectônicas), cada um com uma cratera de milhares de quilômetros de extensão, jorrando milhões de km3 de lava incandescente, juntamente com o gigantesco e catastrófico dobramento de camadas sedimentares (zona de convergência de placas tectônicas) – originando imensas e majestosas cordilheiras com milhares de quilômetros de extensão. Certamente, nesse cenário dantesco, estaremos ainda sendo vitimados por violentíssimos e destruidores terremotos e maremotos, com magnitudes acima de 10 na Escala Richter.

O PRESENTE – UMA CHAVE PARA O PASSADO

Este confronto desigual, entre os atuais desastres geológicos e os Fenômenos Geológicos Globais (desenvolvidos no passado), certamente, constitui a melhor forma de se valorizar a conhecida frase “o presente é a chave do passado”, quando desejamos compreender a história natural, nos campos da Geologia e da Paleontologia. Ou seja, seria inadmissível conciliar os seis Fenômenos Geológicos Globais (ou a Grande Catástrofe) e os seus efeitos violentos e devastadores – aqui resumidamente explanados – com a repetição prolongada dos fenômenos geológicos ordinários (mudanças lentas e graduais), mesmo se admitíssemos, para o desenvolvimento calmo e tranqüilo dos eventos ordinários, os supostos milhões de anos preconizados pela geologia convencional.

Seria então bastante razoável admitir que: a Grande Catástrofe (o evento mais marcante da Geologia Histórica) identifica-se, muito melhor, com os grandes desastres naturais atuais que se desenvolvem rapidamente, com as suas respectivas conseqüências nefastas à vida, relativamente aos fenômenos geológicos ordinários que, mesmo ocorrendo indefinidamente, jamais resultariam novas e espessas camadas sedimentares com abundantes e diversificados fósseis. Convém ainda salientar que os desastres naturais, observados presentemente, são pontuais no tempo e no espaço. Já a Grande Catástrofe se manifestou globalmente e de maneira ininterrupta, durante um curto intervalo de tempo.

Você, caro leitor, que não está familiarizado com a Geologia, muito menos com a sua terminologia técnica e, provavelmente, sem uma clara percepção das possíveis implicações da Grande Catástrofe, dificilmente imaginará a verdadeira importância dos dados científicos, aqui brevemente expostos – relativos aos Fenômenos Geológicos Globais – como um nítido retrato do maior desastre natural da história da humanidade: o Dilúvio de Gênesis.

Na verdade, o impressionante relato bíblico do Dilúvio complementa e é complementado pelas evidências científicas deste devastador desastre geológico. A partir então da harmonia entre o conhecimento científico (FGG) e o conhecimento bíblico (Dilúvio), é possível construir um modelo unificador (Souza Jr., 2004) da breve história da Terra, enfatizando-se seu momento mais dramático – a Grande Catástrofe – ilustrado na forma de uma coluna geologia alternativa (Figura 14).

Assim, podemos agora perceber, mais claramente, que os desastres geológicos do presente constituem importante chave para a compreensão do passado (o Dilúvio Bíblico ou a Grande Catástrofe).  Como nunca, já em pleno século XXI, encontramos um número tão expressivo de evidências científicas que corroboram a realidade do grande Dilúvio de Gênesis. Estamos nos referindo não apenas a poderosas enchentes regionais (Mesopotâmia, Mar Negro, etc.), mas sim, a uma catástrofe singular – de amplitude global – que assolou toda a superfície terrestre, há poucos milhares de anos e em um curto período de tempo. As inevitáveis implicações bíblicas ou teológicas de um determinado modelo de eventos geológicos – os seis Fenômenos Geológicos Globais – não desqualificariam necessariamente este mesmo modelo perante a ciência.

 

Figura 14 – “Uma Breve História da Terra” – Modelo Alternativo de Coluna Geológica (Clique na Figura para visualizar os detalhes)

A impressionante harmonia verificada entre a provável duração dos Fenômenos Geológicos Globais, e os intervalos de tempo mencionados na narrativa bíblica do Dilúvio (dias e meses), nos induzem a valorizar esse relato (Gênesis 7 e 8) e a utilizar sua seqüência cronológica como a melhor alternativa disponível para substituir a Geocronologia Padrão, com seus presumíveis milhões de anos associados à insustentável seqüência de eventos ordinários lentos e graduais, preconizados pela cosmovisão evolucionista das origens. Assim, os fósseis então representariam os seres pré-diluvianos criados originalmente por Deus (Gênesis 1 e 2). O conjunto de todas estas informações nos possibilita reconstituir, em uma seqüência lógica e consistente, o período geológico mais conturbado da breve história da Terra.

Interessante é notar a ênfase bíblica em apenas dois (ação devastadora de grandes volumes de água e mortandade em massa) dos seis Fenômenos Geológicos Globais. Na verdade, estes dois fenômenos são exclusivos da Terra, relativamente aos efeitos imediatos e secundários do Grande Bombardeamento nos demais corpos celestes do Sistema Solar. Para um espectador, plantado na superfície da Terra, a movimentação catastrófica de águas (vindas de baixo, de cima e lateralmente) constituem o fenômeno mais perceptível. A mortandade em massa, evidentemente, representa o evento mais trágico da Grande Catástrofe, justificando a repetição “E expirou toda a carne que se movia sobre a terra…” por três vezes no relato bíblico do Dilúvio (Gênesis 7: 21-23).

Geralmente, dos materiais voláteis, expelidos pela atividade vulcânica, a água é o mais abundante. Com efeito, após os múltiplos impactos de meteoritos e conseqüente abertura de colossais fendas – antes e durante os processos de extravasamento dos gigantescos volumes de lava (LIPs) – fabulosas quantidades de água provavelmente tenham sido liberadas, de maneira violenta, justificando assim a declaração bíblica: “… se romperam todas as fontes do grande abismo… (Gênesis 7:11 p.p.)”.

Analisando-se o referido modelo unificador (ver Figura 14), verifica-se ainda o notável paralelismo entre o desenvolvimento dos Fenômenos Geológicos Globais, a narrativa do Dilúvio (Gênesis 7: 11 a 8: 19) e a real seqüência (relativamente ordenada) de soterramento de seres, preservada no Registro Fóssil. A disposição do conteúdo fóssil retrataria: a morte catastrófica e o soterramento rápido e ordenado dos seres (Mobilidade Diferenciada); o sepultamento contínuo e seqüencial de plantas e animais (Flutuabilidade Seletiva), que antes viviam organizadamente distribuídos (Zoneamento Paleoecológico).

A incontestável contribuição da narrativa bíblica do Dilúvio, para uma correta interpretação dos fatos geológicos, pode ser confirmada por várias declarações de Ellen White (UNASPRESS, 2003), dentre as quais destacamos as seguintes:

  • A inspiração ao nos apresentar a história do Dilúvio, explicou mistérios grandiosos que a Geologia, independente da inspiração, nunca o faria.
  • Moisés escreveu sob a orientação do Espírito de Deus, e uma teoria geológica correta jamais afirmará descobertas que não podem ser harmonizadas com as declarações mosaicas.

Essa Grande Catástrofe soterrou os ambientes previamente existentes e resultou em um mundo pós-diluviano que, em muitas situações, proveu condições ambientais drasticamente diferentes para os organismos vivos. Dentre as conseqüências funestas à vida, após o Dilúvio, destacam-se os desastres geológicos atuais. Estes esporádicos desastres (o presente) são úteis (uma chave) apenas para uma melhor compreensão do passado (FGG), ou o possível recrudescimento desses mesmos desastres poderia também apontar (outra chave) para um importante evento no futuro próximo?

O PRESENTE – UMA CHAVE PARA O FUTURO

Não é tarefa difícil constatarmos, nos dias atuais, um notável aumento na freqüência e intensidade das catástrofes geológicas, em particular, e dos desastres naturais em geral. A contribuição das Sagradas Escrituras é extraordinária, quando se refere ao Dilúvio de Gênesis (passado) e, antecipadamente, liga este mesmo evento ao presente e ao futuro. O texto específico (Mateus 24: 37-39) refere-se à situação atual (presente) como sendo semelhante à época pré-diluviana (passado) e aponta, solenemente, para o futuro (o retorno do Filho do Homem). As palavras não poderiam ser mais fidedignas – elas foram proferidas pelo próprio Jesus: E, como foi nos dias de Noé, assim será, também, a vinda do Filho do homem.Porquanto, assim como, nos dias anteriores ao dilúvio, comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca.E não o perceberam, até que veio o dilúvio e os levou a todos, assim será, também, a vinda do Filho do homem.”

Quanto à precária situação ambiental de nosso planeta, no presente, a Bíblia também se antecipou há mais 2.500 atrás: A terra pranteia e se murcha: o mundo enfraquece e se murcha: enfraquecem os mais altos do povo da terra.Na verdade, a terra está contaminada, por causa dos seus moradores; porquanto transgridem as leis, mudam os estatutos, e quebram a aliança eterna.Por isso, a maldição consome a terra; e os que habitam nela serão desolados; por isso, serão queimados os moradores da terra, e poucos homens restarão.” (Isaias 24: 4-6). Esta declaração não se trata de uma antecipação alarmista e inconseqüente, mas sim reflete a atual realidade e aponta para a proximidade de um futuro que infunde esperança: “Ora, quando estas coisas começarem a acontecer, olhai para cima, e levantai as vossas cabeças, porque a vossa redenção está próxima.” (Lucas 21: 28).

O maior acontecimento da história da humanidade – o retorno glorioso de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo – será acompanhado por estranhas manifestações da natureza (outra catástrofe global?): Mas o dia do Senhor virá como o ladrão de noite; no qual os céus passarão com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se desfarão, e a terra e as obras que nela há se queimarão.” (II Pedro 3: 10). No entanto, em meio a estes eventos cataclísmicos, a reação dos salvos será de plena felicidade e realização – “… Eis que este é o nosso Deus, a quem aguardávamos, e ele nos salvará: este é o Senhor, a quem aguardávamos: na sua salvação, gozaremos e nos alegraremos.” (Isaias 25: 9).

CONCLUSÃO

A breve (brevíssima) história geológica fanerozóica, como apresentada resumidamente no presente artigo, reflete o quão distante a geologia histórica convencional (evolucionista) se afastou do verdadeiro significado da Coluna Geológica. Este resultado desastroso e prejudicial, que perdura por 150 anos, não apenas bloqueou o progresso científico no campo da Geologia, mas também prejudicou, irremediavelmente, a carreira acadêmica de muitos cientistas honestos e competentes.

Por outro lado, raciocinando de maneira mais positiva, podemos perceber o quanto a Geologia pode promover uma significativa valorização das Sagradas Escrituras. Verificamos ainda que o conhecimento geológico, obtido mediante a pesquisa científica, revela-se como insuficiente para descrever os eventos do passado. Mas, felizmente, a Bíblia fornece informações “geológicas” suplementares, com exclusividade, de inestimável valor.

Assim, a coerente e sustentável associação entre o conhecimento bíblico (Dilúvio de Gênesis) e o conhecimento científico (os Fenômenos Geológicos Globais e a Grande Catástrofe), possibilita a obtenção de importantes dados geológicos que, dificilmente, seriam descobertos sob o prisma da geologia convencional. Deve então ser ressaltada a importância fundamental das informações contidas no registro bíblico do Dilúvio, para a construção de uma coluna geológica coerente, nos seus aspectos paleontológicos e cronológicos. Na verdade, sem o conhecimento da teologia bíblica, o autor jamais teria levantado e organizado os dados e as idéias como aqui expostas.

Ou seja, o modelo representado pela Figura 14 fundamenta-se em dois grandes livros, o que possibilita apresentar a Geologia em uma nova perspectiva. Os espessos e extensos pacotes sedimentares, do “Fanerozóico”, podem ser comparados com o fantástico conteúdo de um livro monumental. Nas páginas de pedra desse livro encontram-se registrados, indelevelmente, episódios de uma tragédia de proporções globais. Esse livro, para ser corretamente interpretado, deve ser analisado paralelamente ao “Livro dos livros” – a Bíblia – que contêm valiosíssimas informações, incluindo a narrativa do Dilúvio Bíblico.

O relato do Dilúvio – para ser validado ou aceito como um evento histórico – necessita da identificação de evidências científicas ou geológicas?  Certamente, não. O próprio Deus – valendo-se de leis desconhecidas (não teriam anulado as leis já conhecidas) nos tempos bíblicos, ou mesmo, de maneira sobrenatural – poderia ter provocado o grande Dilúvio. No entanto, ao nos apropriarmos do conhecimento geológico disponível, verificamos a possibilidade de se construir um interessante quadro de eventos, como aquele apresentado neste trabalho. É importante também ressaltar que o modelo de coluna geológica, aqui apresentado, deve ser considerado apenas como um esquema provisório, que visa estimular, ou mesmo facilitar, novas e contínuas investigações, tanto no campo teológico como na área da pesquisa científica.

Finalmente, no contexto do próprio Criacionismo, pode se afirmar que, no que se refere à Geologia, a ciência e a fé podem conviver harmoniosamente. O conhecimento científico e o conhecimento bíblico-histórico envolvem princípios e procedimentos perfeitamente compatíveis. A ciência é o conhecimento do que foi criado, preservado e modificado; enquanto que a Bíblia nos fornece o conhecimento de Quem criou, porque criou e porque possibilitou a ocorrência de determinados processos adaptativos e permitiu outras tantas modificações deletérias no mundo natural. Portanto, enquanto a ciência procura desvendar as maravilhas e os enigmas da criação, a Bíblia nos leva a compreender melhor o Criador e o Seu poder para recriar e salvar.

BIBLIOGRAFIA

ALVAREZ, L. W., et alii – Extra-Terrestrial Cause for the Cretaceous Tertiary Extinction: Science, vol. 208, nº 4448, p. 1095 – 1108. 1980.

COFFIN, M. F. et alii – Large Igneous Provinces and Scientific Ocean Drillings. Oceanography, vol 19, nº 4 (Dec.), pp 150-160. 2006

DAWSON, A. G.; STEWART, I. – Tsunami deposits in the geological record. Sedimentary Geology nº 200, pp 166–183. 2007.

GLIKSON, A. – Asteroid/comet impact clusters, flood basalts and mass extinctions: Significance of isotopic age overlaps – – Earth and Planetary Science Letters nº 236, pp 933– 937. 2005.

JONES, A. P. – Meteorite Impacts as Triggers to Large Igneous Provinces. Elements, Vol. 1, pp 277 – 281.  2005.

MAKSE, H. A. – Spontaneous Stratification in Granular Mixtures – Nature vol 386, pp 379– 381. 1997.

PRICE, N. J. – Major Impacts and Plate Tectonics: A model for the Phanerozoic evolution of the Earth’s lithosphere – Taylor & Francis e-Library. 346 p. 2005.

SOUZA JR, N. N. – Feições Lito-Estruturais de Interesse Geológico e Geotécnico em Maciços Basálticos. Dissertação de Mestrado. EESC-USP, 183p. 1986.

SOUZA JR., N. N. – O “Entablamento” em Derrames Basálticos da Bacia do Paraná: Aspectos Genéticos e Caracterização Geotécnica. Tese de Doutoramento. EESC-USP, 257p. 1992.

SOUZA JR, N. N. – Uma Breve História da Terra. Sociedade Criacionista Brasileira, Brasília (DF), 2ª edição, 207p. 2004.

UNASPRESS – Geologia & Ciências Naturais – Declarações de Ellen White. 176p. 2003.

WIGNALL, P.B. – Large igneous provinces and mass extinctions. Earth-Science Reviews, nº 53, pp 1–33. 2001.