INVESTIGANDO AS ORIGENS

As lacunas do conhecimento científico: uma contribuição da geologia

Autor: Nahor Neves de Souza Junior (Capítulo 11)
Publicado: Livro “Criacionismo no Século 21 – Uma Abordagem Multidisciplinar”.
1ª Edição (CePLiB-SALT/IAENE), Cachoeira (BA), p. 259-293. 2013

Resumo: A metodologia científica – eficaz ferramenta utilizada por dedicados e talentosos pesquisadores, em busca da verdade – têm suas limitações. Várias questões ligadas às origens não são respondidas por este método. Um prejudicial positivismo científico pode conduzir o cientista por um caminho perigoso – a construção de modelos das origens, utilizando, inadvertidamente, conceitos e argumentos metafísicos injustificáveis. Por exemplo, a geologia convencional (especificamente, na área da vulcanologia) coloca à disposição do pesquisador conhecimentos importantes e esclarecedores. No entanto, alguns dos seus princípios, de caráter mais filosófico do que científico, poderá afastar o sincero pesquisador de algumas importantes realidades, conduzindo-o inclusive a conclusões equivocadas. A necessária utilização de uma componente não-científica, na construção de modelos das origens (da Terra, da vida, dos fósseis, etc.), deve ser feita de tal forma que o produto final (modelo) esteja em harmonia com a realidade dos fatos pertinentes. Estas importantes questões não devem ser ignoradas, pois estão inseridas em um tema ainda mais relevante – a controvérsia evolucionismo x criacionismo.

Palavras-chave: método científico, geologia, vulcanologia, evolucionismo, criacionismo   

INTRODUÇÃO

A mente humana, naturalmente, comprometida (ou não) com os ideais da pesquisa científica, busca compreender possíveis eventos passados, mesmo que sejam únicos e irreproduzíveis (origem do Planeta Terra, origem da vida, origem do registro fóssil, origem do homem, etc.). Teríamos então, à disposição, meios confiáveis para descobrir os fenômenos pretéritos (causas primeiras), ou pelo menos fortes evidências destes eventos singulares, que possibilitem relacioná-los, coerentemente, aos correspondentes efeitos atuais – complexos e variados sistemas (orgânicos e inorgânicos), objetos de estudo das ciências naturais?

Provavelmente, os teólogos ufanistas diriam: dispomos de exclusivos textos sagrados que nos revelam, com segurança, o verdadeiro autor das causas primordiais – Deus. Mas, quem é esse Deus? Podemos conhecê-lo? Certamente, outros questionamentos pertinentes poderiam ainda ser levantados, como por exemplo: as respostas às referidas questões seriam unânimes, ou igualmente confiáveis, em todos os textos sagrados (a Bíblia dos cristãos, o Alcorão dos islâmicos, o Tripitaka dos budistas, o Bagavadguitá dos hinduístas, …)?

Sob outra perspectiva, os detentores do saber acadêmico – tão valorizado pela sociedade do século XXI – não titubeariam em responder: sim, a ciência tem as melhores (ou únicas) respostas para as questões sobre as origens. No entanto, no próprio meio universitário identificaríamos alguns problemas. Por exemplo, este eficiente saber científico estaria vinculado à ciência natural, à ciência empírica ou à ciência histórica? Qual delas possibilitaria reconstruir, fielmente, os referidos fenômenos causais (não recorrentes)?

Com efeito, considerando-se a prática objetiva da metodologia científica (as relações de causa e efeito podem ser apreciadas diretamente), os presumíveis eventos singulares, ligados às origens, não estarão acessíveis à observação direta e, evidentemente, à experimentação, caracterizando assim uma importante limitação da própria metodologia científica. Conseqüentemente, na construção de hipóteses e modelos das origens, o conhecimento científico (insuficiente), necessariamente, se mesclará com conhecimentos não-científicos ou metafísicos (pressupostos filosóficos, cenários imaginários, narrativas bíblicas, etc.).

Assim, o método científico ao mesmo tempo em que se revela como um eficaz procedimento de investigação, na obtenção de conhecimentos verdadeiros, também constitui um método com limitações intransponíveis, incapaz de preencher importantes lacunas (permanentes) do conhecimento, especificamente, no que diz respeito à construção de modelos das origens. Portanto, o reconhecimento da necessária utilização de uma componente não-científica, nestes mesmos modelos, evitará desnecessários constrangimentos e discussões.

A utilização da metodologia científica de um modo geral, quando as questões das origens não estão sendo cogitadas, as lacunas (provisórias) do conhecimento científico constituem excelentes oportunidades para a aquisição de novos conhecimentos – exclusivamente científicos – na construção de hipóteses e modelos que, em princípio (idealmente), não seriam afetados por possíveis informações (ou especulações) metafísicas. Em síntese, existiriam pelo menos três tipos de lacunas no campo do conhecimento científico, com suas respectivas implicações:

  • Lacunas Provisórias (Exemplo I);
  • Lacunas Parcialmente Permanentes (Exemplos II, III, IV, V e VI);
  • Lacunas Permanentes (Exemplo VII)

As peculiaridades, de cada uma destas lacunas, podem ser exemplificadas a partir de quaisquer temas pertinentes às ciências naturais. No entanto, considerando-se que este autor está mais familiarizado com a geologia, os sete exemplos, a seguir apresentados, referir-se-ão (direta ou indiretamente) a temas de interesse das geociências. Para uma compreensão mais didática (seqüência histórica e contínua) de importantes eventos geológicos congêneres, os cinco primeiros exemplos (lacunas provisórias e parcialmente permanentes) enfatizarão as origens de um tipo específico de material rochoso (vulcânico) – amplamente distribuído na superfície da Terra – genericamente denominado de derrames basálticos ou, simplesmente, basaltos. Na verdade, o autor dedicou 12 anos de sua vida acadêmica a este tema geológico.

LACUNAS PROVISÓRIAS

Esta é uma situação que possibilita o desenvolvimento de novos projetos de pesquisa, onde o conhecimento científico, sobre determinado tema, poderá ser construído, atualizado e/ou ampliado. Evidentemente, neste caso, o objeto do estudo científico não estará vinculado a quaisquer assuntos sobre as origens (da vida, do homem, do globo terrestre, etc.). Ou seja, nos fenômenos naturais então analisados, as relações de causa e efeito podem ser investigadas diretamente. Assim, possíveis interpretações distintas ou complementares (o que normalmente ocorre no meio científico) não constituiriam obstáculos definitivos para a convivência construtiva e pacífica entre cientistas confessionais e ateístas, pois, em princípio, supõe-se que ambos estejam em busca da verdade científica.

Para melhor esclarecer esta situação (exemplo I), recorreremos aos fenômenos vulcânicos que se desenvolvem freqüentemente na Islândia (uma grande ilha de origem vulcânica). A localização da Islândia, sobre a Dorsal Meso-Atlântica, oferece oportunidades únicas para o estudo de processos geológicos contínuos, relacionados com a expansão do assoalho oceânico. O platô basáltico da Islândia eleva-se a mais de 3.000 m acima do fundo do mar. Abrange uma área de 350.000 km2. Cerca de 30% dessa área (103.000 km2) está acima do nível do mar. Trinta sistemas geológicos – fissuras vulcânicas e vulcões centrais – são identificados na Islândia (Figura 1). Os efeitos de muitas erupções vulcânicas foram sentidos em escala hemisférica e as maiores, provavelmente, tiveram impacto global.

Exemplo I

Recentemente (20 de março de 2010), o Vulcão Fimmvorduhals entrou em erupção, ao longo de uma fissura de 500 metros (0.020 km3 de lava, se estendendo por 1.3 km2), o que exigiu uma rápida evacuação de mais de 600 pessoas. Pouco tempo depois (14 de abril de 2010), uma forte erupção (0.27 km3 de material vulcânico) do Vulcão (geleira) Eyjafjallajökull provocou intenso degelo e conseqüente inundação de rios próximos (GUDMUNDSSON et.al., 2012). Neste segundo momento (Figura 2), procedeu-se à rápida remoção de mais de 800 pessoas de locais sob riscos. A imensa quantidade de cinzas, lançadas a 9.000 metros de altura, atingiram o espaço aéreo da Europa, provocando o cancelamento de 17.000 vôos. Os prejuízos decorrentes deste evento vulcânico se aproximam de dois bilhões de dólares (OROIAN, 2010).

A observação direta (coleta de dados) destes fenômenos vulcânicos recentes (causas – de curta duração), as correspondentes conseqüências (efeitos catastróficos) e inevitáveis danos ambientais, podem ser avaliados cientificamente. Assim, eventuais pesquisas envolvendo os materiais vulcânicos (lavas, cinzas, etc.), então depositados, possibilitará o levantamento de um valioso acervo de dados, necessários para caracterizar o próprio evento (preenchimento de lacunas, provisórias, do conhecimento científico) bem como, para análises comparativas com outros fenômenos vulcânicos congêneres, observados (ou não) diretamente.

Lacunas Parcialmente Permanentes

Referem-se às situações controversas mais comumente enfrentadas, pelos cientistas, na busca pela compreensão de eventuais fenômenos pretéritos. Portanto, um maior número de exemplos será apresentado, no contexto deste tipo de lacuna. Em todos os cinco exemplos (II, III, IV, VI e VI), a manifestação do evento geológico (causa), em um passado remoto, não teria sido observada diretamente por cientistas. Assim, as relações de causa e efeito podem ser feitas apenas indiretamente.

Ou seja, as lacunas parcialmente permanentes são aquelas preenchíveis (incompletamente) por conhecimentos científicos. Neste caso, direta ou indiretamente (consciente ou inconscientemente), procurar-se-á preencher o espaço vazio (deixado pelas próprias insuficiências e limitações do método científico) por conhecimentos (complementares) de natureza, evidentemente, não-científica.

Inicialmente, no exemplo II, o evento vulcânico, embora registrado historicamente (na própria Islândia), não foi observado e em seguida avaliado cientificamente por experientes pesquisadores. Conseqüentemente, alguns dados levantados posteriormente fundamentaram-se, inevitavelmente, mais em suposições do que na realidade dos fatos. Mesmo assim, neste exemplo, a lacuna parcialmente permanente é quase totalmente preenchida por conhecimentos científicos, permitindo espaços reduzidos para eventuais especulações (ou discordâncias) entre aqueles que se propõem a estudar este fenômeno vulcânico relativamente recente.

Já nos exemplos III e IV, os eventos vulcânicos (causas), em questão, não teriam sido registrados historicamente (uma lacuna permanente). No entanto, algumas características ou efeitos (tipos de material vulcânico, etc.) são muito semelhantes àqueles caracterizados nos exemplos I e II. Portanto, os quatro eventos são congêneres e um estudo comparativo pode a princípio ser feito, possibilitando inclusive o preenchimento (parcial) de eventuais lacunas (provisórias) do conhecimento científico.

No que diz respeito ao exemplo V (contempla a maior manifestação de energia vulcânica da história geológica fanerozóica) – formação vulcânica dos assoalhos oceânicos – além de não ter sido observado diretamente, se desconhece qualquer evento atual similar, para uma correta avaliação comparativa. No entanto, a íntima conexão desse fenômeno com os anteriores (exemplos I, II, III e IV), possibilita a realização de alguns estudos comparativos e complementares. No último exemplo (VI), ainda no contexto das lacunas parcialmente permanentes do conhecimento científico, não se considera algum outro tipo de fenômeno vulcânico, mas sim os efeitos mais trágicos destes mesmos fenômenos (especialmente os de maior porte) – mortandade em massa.

Exemplo II

Evento vulcânico, com efeitos ambientais muito mais funestos (relativamente ao exemplo I), ocorreu em um passado pouco mais distante. Trata-se da memorável “Erupção Laki” – evento que mudou para sempre a Islândia (THORDARSON et. al., 2007). Esta extraordinária manifestação vulcânica, no sul do país, iniciou-se (inesperada e violenta erupção) em 8 de junho de 1783, prolongando-se até 7 de fevereiro de 1784, com períodos intermitentes de intensidade. Os gases e aerossóis, resultantes deste fenômeno vulcânico catastrófico, foram diretamente responsáveis por drásticas mudanças climáticas e graves danos ambientais (muito superiores ao verificado no exemplo I), em vastas áreas da superfície terrestre:

  1. A erupção expeliu 122.000.000 toneladas de SO2, dentre outros gases,na atmosfera, provocando efeitos meteorológicos extremos, não apenas na própria Islândia, mas também na Europa e América do Norte: chuvas ácidas; calor excessivo no verão (mais de 20.000 mortes somente na Grã-Bretanha); os invernos (três anos) mais rigorosos já registrados.
  2. Os efeitos também atingiram o Hemisfério Sul – vários meses (entre 1784 e 1786) de neblina seca (vapor denso?), registrados na cidade de Rio de Janeiro.
  3. Seguiu-se, logo após as explosões piroclásticas, o extravasamento de material magmático com um volume de 15 km3 de lava basáltica (superior aos 0.27 km3 da erupção de 2010) por uma área de 600 km2, ao longo da “fissura Laki” (27 km de extensão – Figura 3) – comparar com a fissura vulcânica do exemplo I (0,5 km).
  4. No sul da Islândia, a tragédia foi mais intensa (mortandade em massa) – a maioria das bétulas, arbustos e musgos foram mortos, mais de 75% do gado de pastoreio morreu e 25% da população perdeu a vida, como conseqüência da erupção.
  5. Em termos globais mais de seis milhões de pessoas foram vitimadas na ocasião (enfermidades fatais, quebras generalizadas de safras, etc.).
  6. A compreensão da dinâmica de erupção, e dos efeitos atmosféricos do fenômeno vulcânico Laki, pode fornecer um modelo útil para avaliar os impactos climáticos, e outros efeitos, das grandes províncias ígneas (LIPs) no passado geológico.

Mesmo que a catastrófica Erupção Laki não tenha sido observada por experientes cientistas do Século XXI, tanto as causas imediatas (de curta duração), como os produtos (efeitos catastróficos) foram parcialmente documentados, tendo em vista a maior área abrangida (em relação ao exemplo I), tanto ao nível do próprio país, como seus efeitos em âmbito global. Os dados disponíveis possibilitam a realização de estudos comparativos, não apenas com os fenômenos congêneres recentes, mas também, com aqueles ocorridos no passado geológico ainda mais distante (preenchimento parcial de eventuais lacunas do conhecimento científico).

Na realidade, a vantagem maior (campo do estudo científico) refere-se ao fato de que a ocorrência deste desastre geológico é relativamente recente, favorecendo assim a realização de estudos detalhados, para a compreensão do próprio evento (preenchimento de possíveis lacunas, provisórias, do conhecimento científico). Por exemplo, o acesso direto ao material vulcânico então formado – contendo os elementos 40K e 40Ar – propiciaria uma oportunidade impar para se checar a validade da datação radiométrica (geocronologia padrão). Ou seja, a idade real da Erupção Laki – aproximadamente, 230 anos – deveria, em princípio, corresponder à sua própria idade radiométrica. Na verdade, este tipo de estudo comparativo vem sendo realizado, na pesquisa de outros eventos vulcânicos históricos, com resultados surpreendentes (SNELLING, 1999):

  • Lava proveniente da erupção do Hualalei (Hawaii) em 1910 AD (idade real) apresenta uma idade radiométrica que atinge até 1.1 bilhões de anos;
  • Os depósitos vulcânicos em Katmai (Alasca), oriundos da erupção de 1912 AD (idade real), sugerem uma idade radiométrica equivalente a 4 milhões de anos;
  • Material vulcânico (dacito) proveniente de erupções do Monte Santa Helena (Washington), entre 1980 e 1986 AD (idade real), ao ser datado pelo método K – Ar (rocha-total, feldspato, piroxênio, etc.), revelou idades radiométricas que variam de 340.000 a 2,8 milhões de anos;
  • Material basáltico do Monte Etna (Sicília), expelido em 1792 AD (idade real), apresenta idade radiométrica correspondente a 350.000 anos.      

Estes exemplos de discrepância (em particular), entre a idade real e a idade radiométrica (idade absoluta?), constituem um importante desafio para a realização de testes mais criteriosos, visando à determinação do grau de confiabilidade da própria geocronologia padrão (em termos gerais). Ou seja, quão coerente e preciso é o método convencional de datação de rochas (com destaque para o fanerozóico), quando se tem por objetivo a caracterização cronológica da própria coluna geológica? (por período fanerozóico compreende-se a parte mais recente da coluna geológica, que contém uma quantidade extraordinária de seres pré-existentes, que foram rapidamente soterrados e então preservados, ou seja, os fósseis).

Se, no presente exemplo (II), for efetuado o referido estudo comparativo (idade real x idade radiométrica) e os resultados forem equivalentes aos quatro exemplos aqui apresentados (milhões de anos para a idade radiométrica), a valorização da geocronologia padrão criaria um impasse, pois milhões de anos seriam atribuídos a um evento ocorrido em 1783/1784. Ou seja, a adoção dos milhões de anos impediria que uma importante lacuna do conhecimento científico fosse corretamente preenchida.

Isto significa dizer que, neste caso específico, a datação radiométrica – colocada em destaque pelos geólogos evolucionistas – torna-se um grave empecilho para que a seqüência dos derrames, em questão, seja devidamente caracterizada no âmbito de uma investigação científica bem dirigida. Essa discrepância geocronológica, constatada no exemplo II (em particular), corresponde a um exemplo isolado (incomum)? A mesma discordância seria também identificada em outros eventos congêneres mais antigos (erupções vulcânicas mais amplas e intensas)?

Exemplo III

Neste exemplo, prosseguimos investigando a geologia da Islândia. São apresentados alguns dados referentes às mais amplas exposições de rochas vulcânicas da Islândia (vastos afloramentos nas regiões norte, leste e oeste do país). Trata-se de um grupo de rochas vulcânicas conhecidas como Série ou Seqüência Terciária – ver Figura 1 (mioceno) que ocupa mais de 50% da superfície da Islândia (aproximadamente, 50.000 km2 – comparar com os 600 km2 da Erupção Laki).

Apenas em uma restrita região do leste islandês – com amplas exposições da Série Terciária – identificou-se cerca de 700 derrames sucessivos, com extensão individual de até 60 km, cujas espessuras chegam a atingir 60 metros, formando uma pilha com aproximadamente 9.000 metros de espessura. O volume total de material vulcânico extravasado ultrapassa os 50.000 km3 (muito superior aos 15 km3 da Erupção Laki). As antigas fendas (diques), ou fissuras condutoras do magma, se estendem por mais de 70 km – extraordinários vulcões lineares (SIGMUNDSSON, et. al., 2008).

Felizmente (em benefício à própria vida), nem depois e até os dias atuais evento similar (de mesma magnitude) ocorreu no país. Portanto, tem que se admitir que estamos perante uma lacuna permanente do conhecimento científico. No entanto, estudos comparativos entre os três exemplos – fenômenos vulcânicos desenvolvidos continuamente na mesma região, desde o mioceno até os dias atuais – possibilitam o interessante preenchimento (parcial) de eventuais lacunas (provisórias) do conhecimento científico.

Constata-se ainda um fator favorável, ligado à Seqüência Terciária (não observado nos derrames dos dois exemplos anteriores), que contribui significativamente para uma razoável estimativa do processo (tempo) de superposição dos fluxos de lava. Ou seja, em função de expressivos soerguimentos (catastróficos?) da espessa e extensa Série Terciária e, posteriormente, o desenvolvimento de intensa erosão, os derrames em questão passaram a aflorar, notavelmente, em encostas íngremes da ilha, expondo os contatos inter-derrames por grande extensão lateral. Estes mesmos contatos, por sua vez, dispostos plano-paralelamente e sem evidências de exposição prolongada, apontam para uma rápida e contínua superposição dos derrames de lava basáltica.

Estamos então diante de um evento vulcânico de extraordinária magnitude que, provavelmente, desenvolveu-se também (semelhantemente ao evento do exemplo II) em um curto período de tempo. Portanto, se o tempo de manifestação é equivalente, já as conseqüências catastróficas deste fenômeno teriam sido, provavelmente, muito superiores àqueles provocados pela Erupção Laki em 1783/1784. Ou seja, os efeitos teriam sido muito mais danosos ao meio ambiente – mudanças climáticas extremas, um número proporcionalmente maior de vítimas fatais, etc. – relativamente ao ocorrido no exemplo II.

Seria ainda possível conciliar as evidências geológicas do exemplo III – eventos contínuos e catastróficos, de extraordinária amplitude, que caracterizam os derrames terciários – com o período de 1.000.000 de anos, para a sua formação, com um intervalo médio de 10.000 anos, entre cada fluxo de lava? Pois estas são exatamente as estimativas de tempo fornecidas pela datação radiométrica. A geocronologia padrão parece então falhar novamente.

As notáveis evidências de campo (caracterizadas cientificamente) refletem uma história distinta daquela associada à datação radiométrica. Seria então correto atribuir, à própria geocronologia padrão (mesmo que apresente certa consistência interna), o status de evidência científica? Assim, a idade radiométrica associada à Seqüência Terciária – 3,3 a 15 milhões de anos (idade absoluta?) – poderia também estar equivocada?

Em situações discordantes como esta é que poderemos vislumbrar a força de um paradigma. Na realidade, a aceitação a priori dos prolongados períodos geológicos inicia-se com as idéias de James Hutton (1726-1797) e Charles Lyell (1797-1875). Atualmente, as dezenas e centenas de milhões de anos – atribuídas à duração dos processos responsáveis pela formação da coluna geológica – constituem o paradigma central da estrutura conceitual evolucionista. Assim, a construção temporal da própria história geológica fanerozóica, reflete uma clara manifestação da forte influência de uma geocronologia contraditória, associada a conceitos e argumentos não-científicos (filosóficos) que consubstanciam os modelos evolucionistas, na explicação de eventos geológicos pretéritos não presenciados diretamente.

Um exemplo surpreendentemente contrastante da controvérsia “eventos catastróficos contínuos x geocronologia padrão” pode ser apreciado na visão cataclísmica da coluna geológica fanerozóica apresentada por PRICE (2005) em seu livro, cujas idéias estão fundamentadas em fortes evidências científicas de catástrofes geológicas contínuas, de proporções globais. Por um lado, seu modelo possibilita uma interpretação dos fatos e análises comparativas muito mais eficientes, quando se considera eventos vulcânicos mais antigos. No entanto, paralelamente, no contexto do mesmo livro, um elemento estranho também se destaca – a geocronologia padrão.

Ou seja, paradoxalmente, no interessante modelo (de amplitude global) construído por PRICE (op. cit.), verifica-se a utilização sistemática da datação radiométrica (?) associada a contínuos eventos cataclísmicos de extensão global, ocorridos em um passado mais longínquo (anteriores à Seqüência Terciária) que, por sua vez, se iniciaram a partir da própria destruição catastrófica do super-continente pangeia (Figura 4). Qual seria a causa do “despedaçamento” do pangeia e posterior movimentação rápida de suas partes então fragmentadas (placas tectônicas)? PRICE (op. cit.) responde: impactos contínuos de gigantescos meteoritos.

Na realidade, a formação da própria ilha vulcânica islandesa – de onde foram extraídos os exemplos I, II e III – está associada, inicialmente, ao fracionamento do pangeia. Após essa catastrófica fragmentação, desenvolveu-se o afastamento da placa norte americana em relação à placa euro-asiática (inicialmente unidas – laurásia) e a conseqüente formação do assoalho do Oceano Atlântico Norte e da própria Islândia. É importante lembrar que o conjunto desses fenômenos globais – formação e movimentação de gigantescos fragmentos crustais ou litosféricos – constitui assunto específico da tectônica de placas (um dos mais importantes modelos unificadores da geologia).

Sabe-se ainda que, a abertura do Atlântico Sul desenvolveu-se antes da abertura do Atlântico Norte. No próximo exemplo (IV), destacar-se-ão as evidências da maior província vulcânica de origem continental, localizada no Hemisfério Sul. Dezenas de outras grandes províncias ígneas (locais onde se produziu grandes volumes de materiais vulcânicos), com as mesmas características – distribuídas por toda a superfície da Terra – podem ainda ser identificadas. Quais seriam as semelhanças e diferenças, dessas gigantescas províncias vulcânicas, relativamente aos três exemplos já apresentados?

Exemplo IV

Antes de a porção setentrional do pangeia (laurásia) se desmembrar, em dois gigantescos blocos continentais, ocorreu a separação das placas sul americana e africana (inicialmente unidas – gondwana). Considera-se ainda que, imediatamente antes da abertura do Oceano Atlântico Sul, desenvolveu-se a maior província ígnea continental – a Província Paraná (Brasil) / Etendeka (África) – Figura 5. No Brasil este evento vulcânico corresponde à Formação Serra Geral. Por ocasião do desenvolvimento desta província (cretáceo), evidentemente, não foi feita nenhuma observação direta do fenômeno, por qualquer ser humano (lacuna permanente do conhecimento científico), mesmo considerando-se sua extraordinária abrangência, e os possíveis efeitos (danosos e mesmo fatais à vida) em escala, provavelmente, global.

Tendo em vista ainda a inexistência de qualquer registro histórico de eventos vulcânicos, na Província Paraná, posteriores à Formação Serra Geral, não será possível efetuar-se uma comparação entre possíveis seqüências recentes de derrames com a seqüência antiga (Formação Serra Geral) na mesma região, semelhantemente à análise comparativa realizada entre os três eventos da Islândia (exemplos I, II e III). No entanto, as similaridades litológicas entre os basaltos da Islândia e os basaltos da Província Paraná, propiciam importantes estudos comparativos (envolvendo todos os quatro exemplos) e, conseqüentemente, viabiliza eventual preenchimento (parcial) de lacunas (provisórias) do conhecimento científico.

Os extensos e espessos derrames de lava basáltica da Província Paraná – exaustivamente estudados, há mais de seis décadas – apresentam características impressionantes. Sua área estimada (incluindo a porção africana) de 1.000.000 km2 (10 vezes a área total da Islândia), com uma espessura total dos derrames atingindo até 1.700 metros e um volume total de 1.700.000 km3 de material vulcânico (comparar com os 50.000 km3 da Seqüência Terciária da Islândia), nos possibilita imaginar a magnitude do desastre ambiental provocado apenas por esta gigantesca província ígnea (muito mais trágico que o ocorrido no evento do exemplo III).

A abrangência e a intensidade, deste extraordinário desastre geológico, ficam ainda mais evidentes quando se consideram as impressionantes afirmações apresentadas por PRICE (2005): “O mesmo evento impactante (o mais enérgico de todo o fanerozóico) que provocou os extensivos e espessos derrames basálticos da Província Paraná / Etendeka (possível cratera com diâmetro superior a 500 km), indiscutivelmente, também originou a abertura das placas Sul Americana / Africana”. Ou seja, à excepcional catástrofe vulcânica, associam-se os efeitos cataclísmicos provocados por um gigantesco meteorito.   

Na verdade, o exemplo IV corresponde não somente à Província Paraná, mas inclui outras 112 gigantescas províncias ígneas (continentais e oceânicas). Cada uma dessas províncias vulcânicas (“Large Igneous Provinces”) está associada, ou mesmo, teria sido originada por violentos impactos meteoríticos. As grandes províncias ígneas (produção contínua de colossais volumes de lava basáltica), provavelmente, constituem um dos mais impressionantes resultados dos impactos meteoríticos na superfície da Terra. Quando o meteorito penetra no manto superior (200 km de profundidade), a produção de calor causará a fusão dessa porção do manto, movimentando assim gigantescos volumes de magma (PRICE, 2005).

Considerando-se que essas 113 grandes províncias ígneas (Figura 6) encontram-se distribuídas em toda a superfície da Terra e teriam produzido dezenas de milhões de km3 de material vulcânico, os catastróficos efeitos ambientais são difíceis de serem avaliados. O dantesco cenário torna-se ainda mais terrível e inóspito, quando se acrescenta os múltiplos efeitos provocados por centenas ou milhares de impactos de enormes meteoritos (“Estima-se que, no fanerozóico, o número de impactos de meteoritos e cometas na superfície da Terra, com diâmetro superior a 10 km, teria sido de aproximadamente 1.500.” – PRICE, 2005) – Figura 7.

Estes dois fenômenos geológicos (impactos meteoríticos e grandes províncias ígneas), cataclísmicos e conjugados, repetiram-se (mais de 100 vezes) no passado geológico. Mas, afortunadamente, não têm se repetido durante os últimos milhares de anos da história humana. Entretanto, por outro lado, não temos á disposição o registro histórico das causas (uma lacuna, permanente, do conhecimento científico) destes terríveis desastres naturais.

Muito embora no livro de PRICE (op. cit.) a utilização da datação radiométrica – contraditoriamente (segundo a ótica do autor do presente capítulo) – seja parte integrante do seu modelo, não seria difícil constatar-se que os dois fenômenos geológicos globais interligados (grandes províncias ígneas e impactos de meteoritos), desenvolveram-se rapidamente, em curtos períodos de tempo (os efeitos imediatamente ligados às causas). Com a possibilidade de estudos comparativos, entre os fenômenos vulcânicos atuais com aqueles ocorridos no passado, poderíamos estimar, mais realisticamente, o tempo de formação das grandes províncias ígneas?

Semelhantemente ao ocorrido com a Seqüência Terciária da Islândia, após a formação da Província Paraná, desenvolveram-se enérgicos soerguimentos tectônicos (levantamento da plataforma sul-americana) e o posterior desenvolvimento de amplos e profundos vales erosivos, representados magnificamente na região sul do Brasil (Aparados da Serra), com cânions de até 900 metros de altura.

A realização de extensas escavações e prospecção geotécnica, durante a construção de usinas hidroelétricas (sul e sudeste do Brasil), nas décadas de 60 a 70, também viabilizaram a exposição de amplos afloramentos e a análise de milhares de metros de testemunhos de sondagem. Esses e outros extensos cortes de rocha basáltica, da Formação Serra Geral, possibilitou o contato direto com sucessões contínuas dos vários e amplos derrames de lava basáltica.

Essas e outras oportunas condições, para uma pesquisa sistemática, possibilitaram a realização de estudos específicos, desenvolvidos por SOUZA JR. (1986 e 1992), onde se verifica que o espesso e extenso pacote dos derrames da Província Paraná, provavelmente, tenha se formado de modo extremamente rápido (semanas). Esta estimativa temporal se ajusta perfeitamente (com uma concordância superior à verificada no exemplo III) a um cenário de destruição global.

Poderíamos estender essa mesma cronologia (semanas) a todas as 113 grandes províncias ígneas? Se a superfície da Terra esteve então submetida a processos de contínua devastação – mediante a ação cataclísmica de gigantescos meteoritos, associados a vastíssimas erupções vulcânicas – estaríamos perante uma destruidora sucessão de fenômenos globais, ou ainda, uma única catástrofe geológica global?

Mesmo com tão fortes evidências, o colossal pacote de material vulcânico da Província Paraná parece promover, em algumas mentes, uma “estranha concordância” (milhões de km3 milhões de anos) – “dimensão espacial (1.700.000 km3) dimensão temporal (11.000.000 anos)”. Ou seja, de acordo com a geocronologia padrão, a Grande Província Ígnea Paraná / Etendeka teria se desenvolvido em um período de 1 a 11 milhões de anos (THIEDE et. al., 2010) Os mesmos milhões de anos são também – paradoxalmente – atribuídos às demais províncias ígneas.

Novamente, percebe-se uma notável incongruência entre as fortes e abundantes evidências de processos rápidos e sucessivos, para os referidos derrames (e correspondentes eventos impactantes), e uma cronologia convencional extremamente majorada. O mesmo problema, verificado no exemplo III, se repete no exemplo IV. Ou seja, algo está errado com a datação radiométrica. Esta discordância não apenas dificulta o progresso do conhecimento geocientífico, como também gera desnecessárias discussões acadêmicas.

À medida que nos afastamos do presente, em direção ao passado – 2010 (exemplo I), 1783 (exemplo II), mioceno (exemplo III) e cretáceo (exemplo IV) – nos aprofundamos na coluna geológica e notamos um recrudescimento dos fenômenos geológicos (ligados à vulcanologia e a outros fenômenos correlatos), não apenas em intensidade e abrangência, mas também, provavelmente, no seu poder de destruição. Todas estas evidências (dentre outras) parecem se ajustar ao modelo de uma catástrofe geológica de proporções globais que, certamente, ocasionou o extermínio em massa de um número incontável de seres – poderíamos identificá-los na coluna geológica?

Estas simples e importantes constatações parecem passar despercebidas pelos geólogos, em suas sistemáticas atividades de investigação. Certamente, as idéias estabelecidas inicialmente por Hutton e Lyell e a automática aceitação dos longos tempos geológicos (“tempo profundo” e absoluto), fornecidos atualmente pela geocronologia padrão, constituem os embaraçosos fatores bloqueadores que dificultam a visualização de importantes e esclarecedoras evidências geológicas de campo e, conseqüentemente, um melhor entendimento da própria coluna geológica, como já verificado e confirmado a seguir.

Exemplo V

A sucinta descrição dos quatro exemplos de eventos vulcânicos, então apresentados, em ordem crescente de intensidade e abrangência, aponta para um fenômeno vulcânico ainda mais extraordinário: “A Província Atlântica” (Figura 8). Na realidade, este extraordinário evento vulcânico – estranhamente, não considerado como tal pela literatura especializada – corresponde ao desenvolvimento do assoalho do próprio Oceano Atlântico, logo após a fragmentação do pangeia. Seria possível então identificar-se a fonte fornecedora de tão volumosa quantidade de material vulcânico?

Esta “generosa” fonte de lavas basálticas pode ser facilmente localizada. Trata-se de um hiper-vulcão linear (Cordilheira Meso Atlântica) com 15.000 km de extensão (ver Figura 8), fornecendo gigantescas quantidades de material vulcânico, totalizando um volume de aproximadamente 1.000.000.000 km3 de lava basáltica, em uma área de 106.400.000 km2. Estes valores (e correspondentes impactos ambientais) são muito superiores àqueles identificados na Província Paraná / Etendeka. A abrangência deste excepcional vulcanismo (“Província Atlântica”) deve ainda ser estendida, pois a Cordilheira Meso-Atlântica é apenas parte do total das cordilheiras meso-oceânicas (com 3.000 metros de altura, em média), que se estendem de maneira contínua por 65.000 km (uma gigantesca rede de hiper-vulcões lineares) – (Figura 9).

O impressionante e incalculável volume de material vulcânico extravasado por estas vastíssimas crateras lineares (juntamente com a colossal quantidade de material extrusivo, produzido pelas 113 grandes províncias ígneas) compreenderiam um só fenômeno vulcânico? Esta impressionante associação global de eventos vulcânicos não seria melhor designada de Província Ígnea Global? – provavelmente, a maior manifestação de energia vulcânica de toda a história geológica. Evidentemente, estes desastres vulcânicos contínuos e globais não foram presenciados por nenhum ser humano (lacunas permanentes do conhecimento científico).

Novamente, é importante realçar a impossibilidade de sobrevivência calma e tranqüila, de quaisquer seres, durante a manifestação de tantos eventos cataclísmicos. No entanto – sob a forte influência da geocronologia padrão – cenários imaginários ilustrativos (com um realismo impressionante), supostamente representativos da vida evoluindo lenta e gradualmente (registro fóssil), são frequentemente veiculados tanto pela literatura geológica convencional, como pela mídia. Na verdade, em um ambiente de violenta destruição – meteoritos impactando continuamente com a superfície da terra, provocando gigantescas e devastadoras erupções vulcânicas – certamente, não teriam ocorrido as supostas condições propícias para a vida evoluir, passo a passo, durante milhões de anos.

O conjunto dos cinco fenômenos, então apresentados (exemplos I a V), estão também inseridos em um amplo tema da geologia – a tectônica de placas. É importante considerar-se ainda que, na realidade, estamos lidando com três fenômenos geológicos globais interligados (ver Figura 13) – “Impactos de meteoritos e cometas (1º), durante todo o fanerozóico, seriam responsáveis pela fragmentação do pangeia, pela movimentação das placas tectônicas (2º) então individualizadas (com mudanças bruscas de direção e de aceleração) e pela formação das grandes províncias ígneas (3º)” (PRICE, 2005).

Associado a estes três fenômenos catastróficos, um quarto fenômeno global deve necessariamente ser considerado – ação devastadora de grandes volumes de água (ver Figura 13) – incrementando ainda mais a devastação ambiental. Certamente, violentos impactos de gigantescos meteoritos nos mares primitivos e nos oceanos em formação, juntamente com o desencadeamento de terríveis maremotos (movimentação catastrófica das placas tectônicas), queda de cometas, liberação intensa de águas subterrâneas (associadas às grandes províncias ígneas), teriam mobilizado destruidoras ondas com quilômetros de altura (Figura 10).

A magnitude dos quatro referidos fenômenos geológicos globais e seus efeitos devastadores provocaram, inevitavelmente, a repentina destruição em massa de um incontável número de seres. “Muitos geólogos parecem mostrar uma natural antipatia para a idéia – apesar das evidências – de que formas de vida, especialmente no fanerozóico, foram subitamente extinguidas” – (PRICE, op. cit.). Poderíamos então identificar evidências dessas mortandades em massa?

Tendo em vista o contexto dos cinco exemplos até então apresentados – derrames de lava ligados às grandes províncias ígneas – ao se considerar a relação destes fenômenos vulcânicos com mortandades em massa, surge naturalmente uma interessante questão: haveria a possibilidade de se encontrar vestígios (fósseis?) dessas vítimas, entre os extensos e espessos derrames de lava? A elevada temperatura dos fluxos de lava, envolvendo possíveis seres, provavelmente não teria preservado estes mesmos organismos como fósseis. No entanto, certamente muitos animais e plantas foram vitimados e soterrados pelas vastas e catastróficas erupções fanerozóicas. É então razoável se admitir que, dentre essas inúmeras possibilidades, pelo menos algumas evidências deverão ser encontradas.

Com efeito, a literatura especializada tem revelado (com destaque para os derrames do Grupo Rio Colúmbia – EUA) a existência não apenas de fósseis marinhos entre os derrames, mas de moldes de animais e troncos de árvores – observados por este autor no Estado de Washington (EUA). Este imenso tronco fossilizado (Figura 11), com suas feições texturais e estruturais notavelmente preservadas (sem evidências de paleossolos), confirma outra evidência já reconhecida – a rápida e contínua superposição dos derrames de lava das grandes províncias ígneas.

Na verdade, as drásticas mudanças ambientais, provocadas por essas mega-erupções vulcânicas, e outros fenômenos geológicos globais associados, ocasionaram a destruição da vida em escala global.  Nos últimos 15 anos, muitos geólogos já associam as grandes províncias ígneas com impactos de gigantescos meteoritos e mortandade em massa (o próprio registro fóssil?). Muito embora, PRICE (op. cit.) não compartilha dos curtos valores geocronológicos aqui defendidos, o contexto geológico catastrófico, para toda a coluna geológica fanerozóica é claramente defendido por ele, como verificado mediantes seus próprios argumentos:

  • “O registro estratigráfico do fanerozóico foi controlado, ou mesmo determinado, pela incidência de eventos impactantes catastróficos. Ou seja, dezenas destes eventos, em áreas oceânicas e continentais, coincidem com limites estratigráficos”
  • “Só podemos concluir que os principais eventos impactantes (cometas e meteoritos) controlaram, conduziram ou determinaram a história geológica da Terra em todo o fanerozóico”

Considerando-se essas afirmações de PRICE (2005), alguns importantes questionamentos emergem naturalmente. Se, formas de vida foram abruptamente aniquiladas (vítimas de incessantes impactos meteoríticos), em todo o todo o registro estratigráfico fanerozóico – mesmo sem alusão a outros eventos igualmente fatais à vida (mega-tsunamis, mega-maremotos, gigantescas erupções vulcânicas, etc.) – como podemos extrair ou isolar, do próprio registro fóssil, grupos de seres que tenham sido miraculosamente preservados durante processos contínuos de evolução lenta e gradual, durante milhões de anos? Esta e outras questões pertinentes são consideradas no próximo exemplo (VI).

Exemplo VI

Qualquer pessoa, seja um simples curioso ou o experiente cientista, impressiona-se, tanto com o estado extraordinariamente preservado da maioria dos fósseis, como pela sua espantosa quantidade (trilhões de toneladas) e vastíssima distribuição. Estes seres do passado, que se apresentam como uma artística obra de escultura – com um realismo admirável – constituem, na verdade, testemunhos irrefutáveis ou “imortalizados” de formas vivas, no momento em que estavam sendo contínua e catastroficamente sepultadas.

Não seria o registro fóssil fanerozóico (especialmente, durante o paleozóico e mesozóico) uma fiel transcrição do resultado mais trágico provocado pela ação conjunta dos quatro fenômenos geológicos globais, até aqui sucintamente descritos? Certamente, as vastas e espessas camadas sedimentares, com seu rico conteúdo fóssil, constituem um fiel registro da mais funesta devastação ambiental, em toda a história da vida do Planeta Terra (Figura 12).

Nesse sentido, convém realçar a espantosa quantidade de fósseis encontrada em toda superfície da Terra. É como se, sob os nossos pés, verificássemos a realidade de um extraordinário cemitério global, onde poderíamos identificar aproximadamente 250.000 diferentes espécies de seres e um número incontável de espécimes, notavelmente preservados. Essa mortandade em massa, provavelmente, representaria o resultado de eventos geológicos globais e contínuos.

Com efeito, teríamos então que admitir que as evidências geológicas, atualmente disponíveis, são suficientes para caracterização de cinco fenômenos geológicos globais e interligados. Não estaríamos então mais próximos da constatação de que, na realidade, estes eventos caracterizam uma única catástrofe geológica de proporções globais, com episódios mais ou menos enérgicos?

Evidentemente, a mortandade em massa de seres (fósseis – quinto fenômeno geológico global – ver Figura 13) não foi presenciada ou registrada historicamente por qualquer ser humano (lacuna permanente do conhecimento científico). Mas, encontraríamos nos dias atuais algum lugar onde se possa observar um fenômeno congênere? A observação cuidadosa dos processos vigentes (não-catastróficos), no que diz respeito à formação de fósseis, não possibilita a realização de estudos comparativos.

Ou seja, não existe nenhum processo natural, ocorrendo atualmente, que resultará em um futuro próximo, ou longínquo, na formação de extensas e espessas camadas sedimentares, contendo incontáveis fósseis bem preservados – uma lacuna permanente (adicional, para o exemplo VI) do conhecimento científico. Na verdade, a ausência de eventos geológicos catastróficos (de grande magnitude), nos dias atuais, constitui o principal fator que impede a formação futura de um novo registro fóssil. O que podemos então constatar é a ausência generalizada, na atual superfície da Terra, das causas para a formação de fósseis em grande escala.

Neste sentido, o exemplo VI, caracteriza-se como a situação mais limitadora (maiores lacunas permanentes do conhecimento científico), relativamente aos cinco exemplos anteriores (lacunas menores). Assim, quanto maiores forem as lacunas do conhecimento científico, mais espaço haverá para o seu preenchimento com argumentos e conceitos metafísicos. Um notável exemplo se refere à tentativa de interpretar o registro fóssil fanerozóico como a fiel representação de lentas e graduais etapas evolutivas – desenvolvendo-se durante milhões de anos – de todos os seres, a partir de um ancestral comum.

Com efeito, parecem-nos injustificáveis as freqüentes tentativas de se reconstituir presumíveis cenários de animais e plantas – vivendo e se reproduzindo normalmente (semelhantemente ao verificado nos atuais ecossistemas) – a partir de espécimes fósseis dos mesmos animais e plantas encontrados em determinados níveis da coluna geológica. Ou seja, a própria realidade catastrófica da coluna geológica fanerozóica dificulta qualquer tentativa de se associar o registro fóssil a uma sucessão de ecossistemas pretéritos, que se desenvolveram durante prolongados períodos de tempo (milhões de anos de evolução lenta e gradual). Na verdade, a extraordinária seqüência de fósseis fanerozóicos representa níveis de rápido e contínuo soterramento de seres vitimados por eventos catastróficos globais.

Uma nova questão então surge: quão rapidamente foram sepultados os seres, nos referidos episódios de mortandade em massa? A própria existência do registro fóssil fanerozóico, por si só, constitui eloqüente evidência do curtíssimo espaço de tempo entre a morte catastrófica dos correspondentes seres e o início dos processos de contínuo soterramento e posterior fossilização. A presença generalizada de fósseis – extraordinariamente conservados nas camadas sedimentares – indica claramente o breve intervalo de tempo entre a morte e o início do processo de fossilização.

As impressionantes características dos fósseis, identificadas nos afloramentos das grandes bacias sedimentares, apontam para processos catastróficos de transporte e deposição. A posição de agonia, o excelente estado de conservação de tecidos moles (em invertebrados, peixes, dinossauros, pterossauros, etc.), a preservação e perfeita caracterização de restos estomacais e muitas outras evidências encontradas em inúmeros espécimes, em toda a coluna geológica fanerozóica, se harmonizam com curtos períodos de tempo.

Se este novo tempo geológico se ajusta ao registro fóssil, os correspondentes processos catastróficos de transporte, e soterramento de incontáveis seres, apontam inequivocamente para a rápida formação do próprio registro estratigráfico do fanerozóico (gigantescas bacias sedimentares fanerozóicas). Assim, caracteriza-se o sexto fenômeno geológico global (ver Figura 13) – extensas e espessas deposições sedimentares (especialmente aquelas identificadas em todo paleozóico e mesozóico).

Um quadro de fenômenos geológicos globais, semelhante ao modelo de PRICE (2005), mas com uma geocronologia curta (horas, dias, semanas e meses), pode ser apreciado no livro Uma Breve História da Terra (SOUZA JR., 2004). Neste mesmo livro encontram-se mais evidências e explicações sobre as inconsistências e improbabilidades de se conciliar etapas de lentas e graduais transformações evolutivas à própria formação do registro fóssil ou coluna geológica fanerozóica.

O desenvolvimento de seis fenômenos geológicos globais, contínuos e interligados (Figura 13), aponta para um cenário mais condizente com a realidade dos fatos geológicos e paleontológicos. Um interessante modelo explicativo, do provável significado da disposição (mais ou menos ordenada) dos seres no registro fóssil, poderá ainda contribuir para uma melhor compreensão da história fanerozóica:

  • “A disposição (relativamente organizada) do conteúdo fóssil retrataria: a morte catastrófica e o soterramento rápido e ordenado dos seres (Mobilidade Diferenciada); o sepultamento contínuo e seqüencial de plantas e animais (Flutuabilidade Seletiva), que antes viviam organizadamente distribuídos (Zoneamento Paleoecológico).” (SOUZA JR., 2004)

Nos seis exemplos então apresentados (ligados aos três tipos de lacunas do conhecimento científico), podemos ainda identificar uma correta aplicação da célebre frase – O presente é a chave do passado – cunhada, originalmente, por Hutton e Lyell. Não são os atuais fenômenos geológicos ordinários (não-catastróficos) que nos auxiliam na compreensão da intensidade, abrangência e cronologia dos fenômenos geológicos globais (não mais vigentes). Na verdade, os atuais desastres geológicos (pontuais) podem constituir importante chave para a compreensão de extraordinários eventos pretéritos (globais). Ou seja, os exemplos I e II (presente) lançam luz para a compreensão dos exemplos III a VI (passado).

Lacunas Permanentes

Dentre as questões fundamentais, que impelem a mente humana a buscar respostas convincentes, destaca-se aquela que geralmente divide as opiniões de cientistas, filósofos e teólogos – qual é a origem da vida? Essa vida primordial encontra-se na base (início) do registro fóssil? Provavelmente, no contexto desta importante questão (exemplo VII) é onde se encontram as maiores lacunas do conhecimento (relativamente aos seis exemplos anteriores). Ou seja, tanto as causas como os efeitos imediatos estão além da investigação científica. Esta situação caracteriza uma lacuna permanente do conhecimento (extrema insuficiência do conhecimento científico).

Exemplo VII

Na impossibilidade de se encontrar respostas científicas, para a origem da vida, pesquisadores evolucionistas utilizam (consciente ou inconscientemente) arrazoados metafísicos, geralmente mesclados com argumentos extraídos do conhecimento das características de determinados organismos atuais – versatilidade (reprodutiva e metabólica), funcionalidade, adaptabilidade, similaridades, etc.

Por exemplo, na visão evolucionista, no que se diz respeito ao “mundo pré-biótico” (presumíveis condições geológicas favoráveis ao surgimento da vida) – cenários imaginários, construídos por geólogos, paleontólogos e biólogos – verifica-se que todo o arrazoado situa-se, predominantemente, no âmbito do naturalismo ontológico. À luz desta cosmovisão, a lacuna em questão será então preenchida, quase que exclusivamente, por conhecimento de teor fortemente filosófico, portanto, extremamente conjectural. Este conhecimento, evidentemente, não-científico constituiria então o “deus das lacunas” para os cientistas evolucionistas.

Tendo em vista que o “deus das lacunas” do evolucionismo (por exemplo, o poder sem limites da seleção natural) é capaz de gerar vida e toda a atual biodiversidade, sua competência sobrepuja, em grande medida, a própria capacidade criativa humana. Portanto, estamos perante uma natureza com poderes sobre-humanos (ou super-poderes), e por que não, uma deusa-natureza. Deparamo-nos então com uma incoerente e estranha combinação do naturalismo ontológico com uma “divindade natural”.

Neste caso, estaríamos presenciando um lamentável retorno à divinização da própria natureza? Que perigoso retrocesso! Se permitirmos que esta cosmovisão “panteísta” prevaleça, estaremos ignorando, ou lançando por terra, o nobre e árduo esforço dos pais da ciência moderna. Na verdade, para se evitar este endeusamento dos processos naturais é fundamental reconhecer, primeiramente, as limitações do próprio método científico.

IMPORTANTES ESCLARECIMENTOS

A insuficiência da ciência, em explicar fenômenos pretéritos singulares, pode ser visualizada na mais recente proposta do biólogo alemão Ernst Mayr (1904–2005). Considerado o principal acadêmico darwinista do século 20 (700 artigos científicos e 25 livros produzidos ao longo de 80 anos dedicados ao evolucionismo), no final de sua intensa e extensa vida acadêmica, escreveu com bastante lucidez seu último livro: What makes biology unique?  Nessa publicação, MAYR (2006), de maneira pouco ortodoxa, subdivide a filosofia da biologia em dois ramos fundamentais que, em princípio, não devem ser confundidos: um pertence à biologia funcional e o outro se refere à biologia histórica (ou biologia evolucionista).

Enquanto que na biologia funcional a experimentação científica é frequentemente utilizada (ciências naturais), a biologia evolucionista é caracterizada por cenários imaginários, narrativas hipotéticas onde, evidentemente, a experimentação não é apropriada (MAYR, op. cit.). Mas, se a biologia histórica não pertence ao campo do empirismo científico, deveríamos então, em princípio, ser capazes de identificar a verdadeira fonte de conhecimentos – de natureza, evidentemente, não-científica – de onde são extraídos os referidos cenários imaginários. Proposições filosóficas, oriundas do naturalismo ontológico, caracterizam muito bem a componente não-científica da filosofia da biologia (biologia evolucionista ateísta).

Assim, como pudemos entender nos sete exemplos aqui expostos, a proposta da geocronologia padrão, vinculada a determinados cenários imaginários (extraídos do naturalismo ontológico), constituem a principal alternativa de procedimento, no processo de preenchimento das lacunas do conhecimento científico, por parte de cientistas evolucionistas ateístas, na explicação da própria coluna geológica. Com efeito, narrativas hipotéticas (habilmente construídas) – mundo pré-biótico anterior ao registro fóssil, lentas mudanças macro-evolutivas durante o próprio registro fóssil, etc. – representam não apenas um frágil alicerce para os modelos das origens, mas também se mostram incompatíveis com a própria realidade dos fatos.

Os prejuízos, resultantes da adoção de uma cosmovisão evolucionista (conhecimento científico naturalismo ontológico) – em que determinados argumentos científicos são mesclados ou complementados por conceitos derivados de uma filosofia ateísta – são claramente notados, como podemos verificar nas seguintes incoerências (Figura 14):

  • A divinização da mãe natureza (capaz de gerar e manter a vida, com toda a sua complexidade);
  • O endeusamento da própria seleção natural (capaz de criar e manter a extraordinária biodiversidade);
  • Para a formação da coluna geológica, são atribuídos longos períodos de tempo – milhões de anos (utilizados para caracterizar eventos catastróficos e contínuos)

Por outro lado, cientistas criacionistas – a exemplo de Isaac Newton, Robert Boyle, Adam Sedgwick, Louis Pasteur, etc. – nas questões sobre as origens, reconhecendo tanta a eficácia como as limitações das ciências naturais, complementam o conhecimento científico com conceitos e argumentos oriundos do conhecimento bíblico (e vice-versa). A harmonia entre estas duas fontes de conhecimento legítimo, certamente, não coíbe o cientista verdadeiramente cristão no aprofundamento de suas investigações sistemáticas do mundo natural. As extraordinárias conquistas científicas, alcançadas pelos pais da ciência moderna, estão intimamente ligadas a duas motivações principais – o progresso científico para honra e glória de Deus e para o benefício da humanidade.

Na verdade, estes notáveis e nobres cientistas (criacionistas), ao promoverem o desendeusamento da natureza (tão valorizada pela filosofia panteísta grega!), sob a forte influência da teologia bíblica, estabeleceram definitivamente o mais importante fundamento do empirismo racionala experimentação – que possibilitou, a partir de então, o contínuo progresso científico e tecnológico. Ou seja, o Criador e a criatura (ser humano) refletem uma racionalidade semelhante, portanto, os seres humanos estão aptos para compreender a ordem da criação, criação esta ordenada por Deus. O cientista cristão espera então encontrar um mundo natural – com um grau extremamente alto de ordem e estabilidade – acessível e passível de ser compreendido, mediante a observação e a experimentação.

Assim, de acordo com a cosmovisão criacionista (fundamenta-se tanto no conhecimento bíblico-histórico como no conhecimento científico – Figura 15), as muitas evidências e a plena certeza da existência de um Deus Criador e Mantenedor constitui o estímulo, por excelência, à pesquisa científica – no campo da biologia – não no sentido de se tentar criar vida em laboratório, mas de identificar as ações de uma causa inteligente, ou as inúmeras digitais do Criador (Designer Inteligente) no mundo dos seres vivos, desde a sua origem (exemplo VII).

Na verdade, a mente humana está plenamente apta para perceber a diferença entre acaso e desígnio, e esta percepção – de importância fundamental nos acontecimentos cotidianos – é também freqüentemente utilizada na investigação científica, especialmente nas atividades de pesquisa experimental, propiciando assim o preenchimento de eventuais lacunas do conhecimento científico.

Já a narrativa bíblica do dilúvio (A Grande Catástrofe – SOUZA JR., 2004) – um cataclismo geológico de proporções globais – contribui com importantes informações (legitimamente históricas) complementares, fornecendo ainda uma cronologia (horas, dias, semanas e meses) compatível com os eventos catastróficos, sucintamente, descritos nos seis primeiros exemplos apresentados no presente trabalho.

Desta forma, essa interessante e promissora correspondência temporal aponta para a eficácia dos modelos criacionistas (com destaque para a geologia), que contêm uma coerente e promissora combinação (ver Figura 15) – conhecimento bíblico-histórico (o dilúvio de Gênesis) ↔ conhecimento científico (fenômenos geológicos globais) – Uma geocronologia breve, para o registro fóssil, pode também revelar-se extremamente útil em um eventual preenchimento (parcial) de lacunas do conhecimento geológico, para a compreensão da maior tragédia ambiental da história da Terra.

 

CONCLUSÃO

Como verificado no presente artigo, os geólogos (confessionais ou não) necessariamente buscarão outras fontes (não-científicas) de conhecimento, no processo de construção de modelos das origens.  Constatou-se ainda que a datação radiométrica (ou a geocronologia padrão) se isola duplamente: no contexto dos sete exemplos então apresentados (sejam lacunas provisórias ou parcialmente permanentes); no que se refere às evidências dos seis fenômenos geológicos globais. Espera-se que, com o progresso do conhecimento científico, a geocronologia padrão venha a se revelar apenas como uma importante ferramenta para a caracterização da idade relativa – posição estratigráfica das rochas e correspondentes fósseis.

A persistência em atribuir idades absolutas aos valores supostamente temporais da geocronologia “padrão”, somente contribuirá para obstaculizar, por mais tempo (prejuízo incalculável!), novas e reveladoras descobertas no campo das geociências. Mesmo com os obstáculos promovidos pela datação radiométrica, certamente, a atividade incessante e honesta de muitos cientistas resultará em eventuais avanços, na obtenção do autêntico conhecimento dos fenômenos geológicos. No entanto, essas mesmas descobertas (moldadas pela geocronologia “padrão”) dificultarão cada vez mais a compreensão contextual e a construção de modelos legítimos, no âmbito da geologia, com uma interferência proporcionalmente prejudicial de conceitos e argumentos metafísicos, afastando ainda mais a própria geologia da realidade dos fatos.

Sob outra perspectiva, uma geocronologia curta promoverá a construção de modelos geológicos muito mais coerentes, abrindo ainda novos horizontes para promissoras e inéditas descobertas. A geocronologia bíblica do dilúvio, no contexto de uma narrativa simples, mas coerente (Gênesis 7 e 8), é extraordinariamente auspiciosa Ou seja, a coerente e vantajosa associação dos conhecimentos oriundos de duas confiáveis fontes de informação – a geologia e a Bíblia – nos possibilita construir, com razoável precisão, a recente e conturbada história da vida, ou do fanerozóico, em nosso planeta.

Interessante é notar que Sedgwick – historicamente responsável pelo lançamento das bases científicas da geologia (contribuiu para as definições do “Cambriano” e do “Devoniano”) – tenha sido um criacionista que acreditava no dilúvio de Gênesis ou nas evidências geológicas de catástrofes súbitas. Para este ilustre geólogo britânico, os estratos sedimentares haviam sido depositados por águas catastróficas.

Sedgwick foi professor de geologia na prestigiada Universidade de Cambridge e presidente da Sociedade Geológica de Londres. Como autêntico criacionista, sentia-se à vontade para associar a geologia à ética e à narrativa bíblica de Gênesis 7 e 8. Charles Darwin, discípulo de Sedgwick, infelizmente, desconsiderou os preciosos ensinamentos científicos do grande mestre, o qual, consternado, se sentiu no dever de criticar publicamente o modelo de evolução de seu ex-aluno. Hoje, após 153 anos, à luz do conhecimento geológico disponível, temos que admitir que Sedgwick estava coberto de razão.

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MAYR, E. – Biologia, Ciência Única – Editora Schwarcz LTDA (Companhia da Letras), SP, 266 p. 2006

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FIGURAS:

Figura 1 – Sistemas de fissuras e edifícios vulcânicos (Islândia). Notar área ocupada (branco) pelos basaltos terciários.

Figura 1 – Sistemas de fissuras e edifícios vulcânicos (Islândia). Notar área ocupada (branco) pelos basaltos terciários.

 

 

Figura 2 – Erupção catastrófica do Vulcão Eyjafjallajökull (Islândia)

Figura 2 – Erupção catastrófica do Vulcão Eyjafjallajökull (Islândia)

 

 

Figura 3 – Resquícios da grande fissura Laki (Islândia), ativada em 1783/1784.

Figura 3 – Resquícios da grande fissura Laki (Islândia), ativada em 1783/1784.

 

 

Figura 4 – Configuração aproximada do Grande Continente Pangeia, com destaque para a porção sul (Gondwana)

Figura 4 – Configuração aproximada do Grande Continente Pangeia, com destaque para a porção sul (Gondwana)

 

 

Figura 5 – Província Paraná/Etendeka (LIP): destaque para a Formação Serra Geral (território brasileiro).

Figura 5 – Província Paraná/Etendeka (LIP): destaque para a Formação Serra Geral (território brasileiro).

 

 

Figura 6 – Principais representações (em vermelho) das Grandes Províncias Ígneas (LIPs): manifestações vulcânicas extraordinárias (associadas a impactos de meteoritos) desenvolvidas durante a Grande Catástrofe.

Figura 6 – Principais representações (em vermelho) das Grandes Províncias Ígneas (LIPs): manifestações vulcânicas extraordinárias (associadas a impactos de meteoritos) desenvolvidas durante a Grande Catástrofe.

 

 

Figura 7 – O Grande Bombardeamento: chuva de meteoritos durante o fanerozóico, responsável pela remodelação da superfície dos corpos do Sistema Solar, especialmente do sistema Terra-Lua.

Figura 7 – O Grande Bombardeamento: chuva de meteoritos durante o fanerozóico, responsável pela remodelação da superfície dos corpos do Sistema Solar, especialmente do sistema Terra-Lua.

 

 

Figura 8 – A extraordinária “Província Atlântica”, formada a partir do extravasamento de gigantescos volumes de lavas, oriundas de um hiper-vulcão linear (cordilheira meso-atlântica)

Figura 8 – A extraordinária “Província Atlântica”, formada a partir do extravasamento de gigantescos volumes de lavas, oriundas de um hiper-vulcão linear (cordilheira meso-atlântica)

 

 

Figura 9 – Dorsais ou cordilheiras meso-oceânicas: rede de hiper-vulcões lineares (65.000 km), fornecedores de colossais volumes de lava basáltica, para a formação da própria crosta oceânica.

Figura 9 – Dorsais ou cordilheiras meso-oceânicas: rede de hiper-vulcões lineares (65.000 km), fornecedores de colossais volumes de lava basáltica, para a formação da própria crosta oceânica.

 

 

Figura 10 – Ilustração de megatsunamis: um dos agentes responsáveis pelo transporte e deposição de grandes volumes de materiais sedimentares, juntamente com seu conteúdo orgânico (fósseis)

Figura 10 – Ilustração de megatsunamis: um dos agentes responsáveis pelo transporte e deposição de grandes volumes de materiais sedimentares, juntamente com seu conteúdo orgânico (fósseis)

 

Figura 11 – Tronco de árvore fossilizada, entre dois derrames basálticos – GRC – Hwy-14 – margem direita do Rio Colúmbia, Washington (EUA). Notar corte transversal do tronco

Figura 11 – Tronco de árvore fossilizada, entre dois derrames basálticos – GRC – Hwy-14 – margem direita do Rio Colúmbia, Washington (EUA). Notar corte transversal do tronco

 

 

Figura 12 – Fósseis de peixes (última refeição não concluída) e um ictiossauro fêmea (filhote acaba de nascer): evidências de morte súbita e rápido soterramento

Figura 12 – Fósseis de peixes (última refeição não concluída) e um ictiossauro fêmea (filhote acaba de nascer): evidências de morte súbita e rápido soterramento

 

 

Figura 13 – Fenômenos Geológicos Globais e Interligados:                 A Grande Catástrofe (Dilúvio de Gênesis)

Figura 13 – Fenômenos Geológicos Globais e Interligados: A Grande Catástrofe (Dilúvio de Gênesis)

 

 

Figura 14 - EVOLUCIONISMO: Cosmovisão em que ocorrem associações intuitivas ou intencionais entre o conhecimento científico (ciências naturais), o conhecimento filosófico (naturalismo ontológico) e a “seleção natural” (poderoso agente criador e mantenedor).

Figura 14 – EVOLUCIONISMO: Cosmovisão em que ocorrem associações intuitivas ou intencionais entre o conhecimento científico (ciências naturais), o conhecimento filosófico (naturalismo ontológico) e a “seleção natural” (poderoso agente criador e mantenedor).

 

 

Figura 15 - CRIACIONISMO: Cosmovisão em que ocorrem associações intuitivas ou intencionais entre o conhecimento bíblico-histórico, o conhecimento de Deus (atuação natural e sobrenatural) e o conhecimento da natureza (nos seus aspectos científicos e estéticos).

Figura 15 – CRIACIONISMO: Cosmovisão em que ocorrem associações intuitivas ou intencionais entre o conhecimento bíblico-histórico, o conhecimento de Deus (atuação natural e sobrenatural) e o conhecimento da natureza (nos seus aspectos científicos e estéticos).