A Coluna Geológica

Nahor N. Souza Jr.

INTRODUÇÃO

Desde o século 18, várias tentativas têm sido feitas objetivando caracterizar e classificar as camadas rochosas (incluindo os fósseis) da crosta terrestre. O resultado destes estudos possibilitou a elaboração de um padrão de coluna geológica (geologic time scale), cujas divisões e nomenclatura têm sido frequentemente modificadas desde então. A proposta de coluna geológica, aqui apresentada (destaca-se o Éon Fanerozóico), fundamenta-se nos seguintes dados:

I. Experiência acadêmica pessoal (12 anos de intensa e ampla investigação), envolvendo as rochas pertencentes à Grande Província Ígnea Paraná-Etendeka. Um dos relevantes resultados da pesquisa se refere aos processos de contínua superposição (duração de semanas) de espessos e extensos derrames de lava basáltica. Este extraordinário e catastrófico evento geológico não apenas originou um gigantesco volume (1.000.000 km3) de material vulcânico, que se espalhou por uma vasta área continental (1.500.000 km2), mas também desencadeou um fenômeno ainda mais espetacular – a abertura de uma enorme fenda ou supervulcão linear (Dorsal Mesoatlântica), com 11.300.000 metros de extensão, através da qual extravasaram colossais volumes (incalculáveis) de material magmático por 106.200.000 km2 (atual área do Oceano Atlântico):

  • SOUZA Jr., N. N.Feições Lito-Estruturais de Interesse Geológico e Geotécnico em Maciços Basálticos. Dissertação de Mestrado. EESC-USP, 183p. 1986.
  • SOUZA JR., N. N.O “Entablamento” em Derrames Basálticos da Bacia do Paraná: Aspectos Genéticos e Caracterização Geotécnica. Tese de Doutoramento. EESC-USP, 257p. 1992.

II. Artigos mais recentes, abordando determinados fenômenos de amplitude global, interligados e de natureza, evidentemente, catastrófica (incluindo as grandes províncias ígneas), como por exemplo:

  • ALVAREZ, L. W., et alii – Extra-Terrestrial Cause for the Cretaceous Tertiary Extinction: Science, vol. 208, nº 4448, p. 1095 – 1108. 1980.
  • ALT, D.; SEARS, J. M.; HYNDMAN, D. W.Terrestrial Maria: The Origins of Large Basalt Plateaus, Hotspot Tracks and Spreading Ridges. Journal of Geology, vol. 96, nº 6, p. 647 – 662. 1988.
  • MAKSE, H. A.Spontaneous Stratification in Granular Mixtures – Nature vol 386, pp 379– 381. 1997.
  • WIGNALL, P.B.Large igneous provinces and mass extinctions. Earth-Science Reviews, nº 53, pp 1–33. 2001.
  • JONES, A. P.; PRICE, G. D.; PRICE, N. J.; DeCARLI, P. S.; CLERGG, R. A.Impact Induced Melting and the Development of Large Igneous Provinces. Earth and Planetary Science Letters, 202: 551-561. 2002.
  • ELKINS-TANTON, L. – Giant Meteoroid Impacts can Cause Volcanism. Earth and Planetary Science Letters. Vol. 239, pp. 219-232. 2005.
  • JONES, A. P. Meteorite Impacts as Triggers to Large Igneous Provinces. Elements, Vol. 1, pp 277-281. 2005.
  • WHITE, R. V.Volcanism, Impact and Mass Extinctions. Lithos, Vol. 79, Nº 3-4. 2005.
  • GLIKSON, A.Asteroid/comet impact clusters, flood basalts and mass extinctions: Significance of isotopic age overlaps. Earth and Planetary Science Letters nº 236, pp 933– 937. 2005.
  • PRICE, N.J. – Major Impacts and Plate Tectonics – A Model for the Phanerozoic evolution of the Earth’s lithosphere. Ed. Routledge (London/New York), 346p. 2005.
  • DAWSON, A. G.; STEWART, I.Tsunami deposits in the geological record. Sedimentary Geology nº 200, pp 166–183. 2007.

Estes artigos sugerem, nitidamente, associações entre cinco distintos eventos geológicos cataclísmicos, de amplitude global – que se repetiram inúmeras vezes durante a história fanerozóica – da seguinte maneira:

  • Impactos Meteoríticos → Extinção em Massa
  • Impactos Meteoríticos → Grandes Províncias Ígneas
  • Grandes Províncias Ígneas → Extinção em Massa
  • Impactos Meteoríticos → Megatsunamis (tsunamitos)
  • Impactos Meteoríticos → Tectônica de Placas

Fenômenos Geológicos Globais

Não é tarefa difícil então identificar a seguinte realidade na sequência de camadas sedimentares fanerozóicas, com o seu correspondente conteúdo fóssil: os vários níveis da coluna geológica parecem apontar não apenas para fenômenos de maior intensidade, mas também para aqueles de maior extensão (modificaram radicalmente toda a superfície da Terra), passíveis de correlação em escalas continentais e até globais. Aos cinco eventos geológicos pretéritos – já identificados e caracterizados por geocientistas do mundo inteiro (incluindo as 13 referências científicas já mencionadas) – acrescentar-se-á, necessariamente, um sexto evento de abrangência igualmente global: extensas e espessas deposições sedimentares. Assim, o principal conteúdo de uma coluna geológica deverá, evidentemente, ressaltar os seguintes fenômenos geológicos globais:

1. Impactos de Gigantescos Meteoritos

2. Ação Devastadora de Megatsunamis

3. Fragmentação da Crosta Terrestre e Tectônica de Placas

4. Grandes Províncias Ígneas (Supervulcões)

5. Mortandade em Massa e Rápido Soterramento

6. Extensas e Espessas Deposições Sedimentares

Encontram-se muitas evidências de interconexão entre estes mesmos fenômenos, verificando-se ainda a possibilidade do seu desenvolvimento simultâneo, associado a outras alterações climáticas e ambientais drásticas. Neste caso, como deveríamos interpretar as várias subdivisões da coluna geológica? Representariam ambientes geológicos relativamente estáveis, semelhantes àqueles identificados atualmente, mas, separados por intervalos de milhões de anos? Ou, as extensas e espessas bacias sedimentares corresponderiam a uma sucessão de ambientes soterrados e superpostos – produto de episódios catastróficos globais de sedimentação, que se desenvolveram de maneira rápida e contínua?

Esta segunda possibilidade, mais condizente com a realidade destes mesmos seis eventos globais, parece apontar para uma única catástrofe geológica que modificou radicalmente toda a superfície da crosta terrestre – A Grande Catástrofe – que, por sua vez, mostra-se notavelmente compatível com o relato histórico de um cataclismo geológico mundial (a narrativa bíblica do dilúvio). A associação destas duas fontes de conhecimento (geológica e bíblica) – com uma extraordinária coerência geocronológica e paleontológica – caracteriza a proposta de coluna geológica resumidamente apresentada a seguir.

“Uma Breve História da Terra” – Modelo Alternativo de Coluna Geológica (Clique na figura para ampliar)

A Grande Catástrofe

A Grande Catástrofe em questão compõe a porção central do painel, ou coluna geológica intitulada “Uma Breve História da Terra” (para identificar os detalhes é só clicar na própria coluna). Na verdade, a narrativa bíblica do dilúvio encontra impressionante correspondência na história geológica fanerozóica – quando esta for corretamente compreendida – a partir das notáveis evidências dos Fenômenos Geológicos Globais.

Os dados geológicos e bíblicos são suficientemente abundantes, para caracterizar a Grande Catástrofe, como pode ser notado na porção central do painel, dominando quase a totalidade do seu espaço, deixando apenas uma relativamente delgada faixa horizontal inferior (Período Pré-Catástrofe) e outra superior (Período Pós-Catástrofe). No cabeçalho do painel em apreço é possível identificar sete seções ou colunas na seguinte ordem, da esquerda para a direita:

1. Geocronologia Padrão

2. Geocronologia Bíblica

3. Movimentos Eustáticos e/ou Epirogenéticos

4. Narrativa Bíblica

5. Estruturas de Impacto

6. Eventos Geológicos

7. Distribuição Geológica e Geográfica dos Seres

Na porção central do painel identificam-se duas faixas verticais pretas, estrategicamente posicionadas: a da esquerda procura ressaltar as evidências bíblicas da Grande Catástrofe (contidas na segunda, na terceira e na quarta colunas do painel); já a faixa preta da direita – evidências científicas da Grande Catástrofe – tem por objetivo despertar a atenção para os dados contidos na quinta e sexta colunas do painel. Nestas mesmas colunas (5ª e 6ª), os seis Fenômenos Geológicos Globais são destacados nas quatro faixas douradas verticais (fenômenos 2, 3, 5 e 6) e em duas faixas douradas horizontais da sexta coluna do painel (fenômenos 1 e 4).

Na sétima coluna do painel (Distribuição Geológica e Geográfica dos Seres), três hipóteses auxiliares revelam-se muito elucidativas, principalmente, no que diz respeito à própria disposição dos seres no registro fóssil: a morte catastrófica e o soterramento ordenado dos seres (Mobilidade Diferenciada); o sepultamento contínuo e seqüencial de plantas e animais (Flutuabilidade Seletiva), que antes viviam organizadamente distribuídos (Zoneamento Paleoecológico). Na realidade, essa Grande Catástrofe soterrou os ambientes previamente existentes e resultou em um mundo pós-diluviano que, em muitas situações, proveu condições ambientais drasticamente diferentes para os organismos vivos.

A descrição bíblica da Grande Catástrofe, associada aos correspondentes dados geológicos, possibilita ainda uma interessante e didática subdivisão, deste importante e dramático período da história humana, em cinco fases (segunda coluna):

  • Fase (I) das Violentas Tempestades
  • Fase (II) da Transgressão Marinha Generalizada
  • Fase (III) das Grandes Oscilações Transgressivo-Regressivas
  • Fase (IV) de Formação das Grandes Cadeias Montanhosas
  • Cenário (FaseV) Semelhante ao Atual

Uma explicação minuciosa de cada uma destas fases – respaldadas bíblica e cientificamente – bem como a detalhada explanação das demais partes da coluna geológica “Uma Breve História da Terra”, poderão ser apreciadas, em breve, no livro homônimo (3ª edição), em fase de publicação (no prelo).